por Fernando Muniz
Testa o motor, parado no sinal. Quer sentir o ronco, manhoso, de moto antiga. Como imaginava, desde a adolescência.
O barulho incomoda o motorista ao lado, que levanta o vidro e aumenta o som do rádio. A música não ajuda. O motoqueiro percebe e faz a moto roncar mais alto. O sinal teima em não abrir.
Pensa em sair do carro e encher aquele galo velho de porrada. Lembra-se da mulher e filhos, das prestações e do emprego. E se alguém filmá-lo?
O sinal abre. O motoqueiro engata a marcha, dá um sorriso de escárnio e faz um aceno com a mão, de quem não se deixa domar pelas impossibilidades da vida. De quem acredita ter um ou outro truque para driblar o Fim.
E o motor pifa.