20:11Vida Loca

por Fernando Muniz

“Doutor, eu preciso, na sincera. Se eu não tomar remédio, acabo matando ele”. Toma um gole d´água, para diminuir a ansiedade.

“Mas por que uma coisa dessas? Ele não fez nada contra você”.

O preso encara o médico pela primeira vez: “é que ele gosta de bulir com criança”.

“Como?”

“É isso aí mesmo, doutor, ele confessou. Fala dormindo, o porra. Isso me atacou os nervos, doutor. Se me colocarem de volta na jaula, mato ele!”. No rosto uma sensação de impotência, de quem é arrastado pela correnteza.

“Você tem filhos?” Fica espantado com a própria pergunta, mas agora, já fez.

“Uma filhinha e dois filhos”.

“E a sua mulher, cuida bem deles?”

“Tenho mulher não, doutor. Não aguentam essa vida loca”. Aponta para as tatuagens, toscas, pelo corpo.

“Eles vêm visitar você”?

“A mais velha, de onze, de vez em quando vem. A mãe virou crente e acha importante que a menina me veja. Mesmo aqui. Os outros, as mães não trazem. Os namorados não deixam”.

Agora é o médico que encara o preso: “e esses caras? Eles tratam bem os meninos?”

“Mas o que isso tem a ver comigo, doutor?”

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