10:19‘Chamem o Renatinho!’

por Célio Heitor Guimarães

A ordem, um misto de desespero e de esperança, partiu de Nagibe Chede. Radioamador de primeira hora, dono das rádios Emissora Paranaense e Curitibana, ele encasquetara trazer para o Paraná um invento que o entusiasmara nos Estados Unidos e, no Brasil já deliciava paulistas, cariocas e gaúchos – a televisão. Naquela noite, quando tudo ainda era experimental, Nagibe programara a emissão de um programa musical estrelado pela soprano Claudete Rufino, acompanhada do maestro Athaide Zeike. Set preparado, artistas posicionados, um monte de gente na expectativa… Eis que se dá conta da falta do diretor de TV (que, para quem não sabe, dirige tecnicamente o espetáculo, aciona os câmeras e envia a imagem ao ar). O funcionário escalado dera o cano. Ou melhor, tomara umas a mais.

Renato Mazânek, o Renatinho suplicado por Nagibe Chede, estava em atividade na Rádio Emissora Paranaense, na Senador Alencar Guimarães, do outro lado da Praça Osório, onde era um pouco de tudo: operador de som, locutor, programador, discotecário… Chegou correndo e assustado ao Edifício Tijucas. Nunca fizera aquilo. Só recebeu uma orientação básica do técnico Olavo Bastos e mãos à obra. Às tantas, em meio ao nervosismo, cometeu um erro: acionou duas câmaras ao mesmo tempo. Esperou a bronca do chefe. Qual o quê! Dr. Nagibe adorou a sobreposição das imagens. E nunca mais abriu mão de Renatinho.

Mazânek foi um dos mentores da televisão do Paraná. Aprendeu fazendo e ensinou aprendendo. Inventou programas, pintou cenários, montou a equipe técnica, ensaiou garotas-propaganda, coordenou comerciais e, em meio a uma parafernália de fios, cabos, microfones e um calor infernal debaixo de panelões de lâmpadas de 1.000 watts, no espaço minúsculo de uma quitinete, ajudou a concretizar o sonho de Nagibe Chede – a TV Paranaense, Canal 12, hoje RPC, afiliada da poderosa Rede Globo de Televisão.

Outra odisseia, também protagonizada pela dupla Chede-Mazânek, foi a chegada do equipamento de videoteipe no Brasil. Desembarcado no Rio, precisava ser liberado em São Paulo e remetido a Curitiba. Mas havia pressa porque a emissora concorrente, TV Paraná, Canal 6, já anunciara que estava prestes a colocar em ação o seu aparelho e tinha o suporte das Emissoras Associadas, de Chateaubriand. Lá foram, então, Nagibe e Renato rumo à Cidade Maravilhosa. Chegaram no Galeão por volta das 10h30 de uma sexta-feira, horário sagrado do chá de Nagibe, que ele não dispensava em hipótese alguma. Baldados foram os esforços de Renatinho para demover o chefe, em nome de um objetivo maior. Resultado: quando procuraram o encarregado do reembarque do equipamento para São Paulo, este já havia encerrado o expediente e estava entrando em férias. Patética foi a correria de Mazânek pelo estacionamento de carros do aeroporto à procura de “seu” Geraldo (o nome do funcionário) e enorme (põe enorme nisso!) o esforço para convencê-lo a voltar, reassumir o cargo e liberar o precioso aparelho! Isso feito, em vez do alívio, outro problema: não havia mais nenhum voo de cargueiro para São Paulo naquele dia. Só na semana seguinte. Ante o olhar aparvalhado de Nagibe, lá foi Renatinho outra vez atrás de uma solução, enfim encontrada, depois de muita procura, em um voo da Real Aerovias que, partindo de Belo Horizonte com destino a São Paulo, faria uma milagrosa escala no Rio… Mazânek só faltou beijar a bochecha do agente da Real.

Quase 60 anos depois, Renatinho é dos poucos pioneiros ainda vivos e em plena lucidez. Fez história no rádio e participou da história da televisão. Marcou também destacada presença na publicidade. Tem muita história para contar e muita coisa ainda por fazer. Mas ninguém parece se dar conta disso.

Na verdade, Mazânek ainda está por receber a homenagem que merece. Mais do que isso: poderia estar prestando assessoria, aconselhando gente do setor. Com certeza, evitaria as baboseiras que nossas televisoras têm por hábito mandar para o vídeo hoje em dia e os erros elementares de procedimento que costumam cometer.

Infelizmente, é o preço que está sendo pago por um setor desmemoriado, carente de criatividade, que já não tem presente e pretende ter futuro sem conhecer o passado.

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2 ideias sobre “‘Chamem o Renatinho!’

  1. jamurjr

    Celio, todos sabemos que Renatinho foi um dos maiores talentos a serviço da televisão paranaense. Devo a ele minha participação na primeira equipe de apresentadores e locutores de cabine na saudosa emissora de Nagibe Chede. Tenho saudade desse tempo e muita saudade do Renatinho que não vejo ha muito tempo. Parabéns pelo belo texto(como sempre) e a oportuna lembrança do talentoso e muito querido Renato Mazaneck JamurJr.

  2. juliozaruch

    O Renato Mazânek, além de todo o talento que Deus lhe deu ao nascer, é um grande caráter. Um sonhador. Um homem sempre cheio de projetos. Um idealista. Merece, com diz o Célio, ser sempre reverenciado. E o Célio, sempre nos trazendo boas histórias, nos ensinando, nos refrescando a memória. Um grande 2018 aos dois e a todos. Que o novo ano só traga boas notícias e novas (boas) relembranças.

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