11:58ZÉ DA SILVA

Respiro napalm há muito tempo. Desde antes de a bomba acabar com a perna do Zé Hamilton Ribeiro, o grande repórter. Nasci no ano do tiro no coração de Getulio – e a figura de Gregório Fortunato sempre ficou por aí, o anjo negro. Tomei ácido e beijei o céu mesmo depois da morte daquela turma de 27 anos. A cadeira do dragão e a turma do Fleury junto com fardados estava sempre presente. Atirei com .50 e derrubei uma árvore. Fui pedir perdão no Rio Amazonas, comi macarrão com farinha e vi o transatlântico iluminado de Fellini na outra margem do rio numa noite de lua cheia. O que faço aqui, agora, se gosto de bolero, tango, rock, literatura em romance e poesia, cinema, coração sangrando? Napalm me devasta sempre que chego perto de alguém. Tentei a morte lenta ao não ver saída. Estourei o fígado, veias, narinas e os pulmões. Teve o milagre, mas me arrasto sem saber. Até que num dia chuvoso como o de hoje alguém me disse lá de longe: “Deixe a baleia cortar a água.”

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