7:14Osmar. Osmar?

por Célio Heitor Guimarães

Eu tinha preparado um texto simpático a Osmar Dias, na disputa para o governo do Estado, mesmo sabendo que elogio a político, antes da eleição e com ela ainda distante, é sempre temerário. Aprendi ao longo da vida que político só se elogia, quando isso for possível, depois do mandato cumprido. Antes, você sempre corre o risco de dar com os burros na água, como se falava antigamente.

Pois é, Osmar era um dos meus personagens neste Dia de Finados, mas o editor Zé Beto “derrubou a minha matéria”, como se diz no jargão jornalístico. Primeiro, ao reproduzir, na terça-feira, fofoca assinada, desde Brasília, por Cláudio Humberto, ex-integrante da turma de sustentação do governo de Fernando Collor de Mello. De conformidade com o dito cujo, a Polícia Federal teria deflagrado na terça (31) a segunda fase da uma investigação sobre desvio de verbas públicas por meio de fraudes em financiamentos agrícolas no Banco do Brasil entre 2012 e 2015. O período coincidiria com o mandato de Osmar Dias como vice-presidente de agronegócios do banco.

Segundo, na edição de ontem, Zé Beto anunciou que o mais recente flerte de Osmar Dias é com o DEM – ou vice-versa. E nessa conversa teria a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência, posto que ele deixaria o seu vice, que é PSB, como governador e candidato a permanecer no cargo. Na história, entraria até Ana Arraes, mãe do falecido Eduardo Campos, na condição de vice de Alckmin para arrumar votos principalmente no Nordeste. Aqui no Paraná, Osmar, no DEM, teria o apoio do PSB, mas com o compromisso de apoiar Beto Richa (PSDB) para o Senado.

Resultado: veio-me uma dor no estômago e abortei o texto pronto.

Cláudio Humberto, pela sua origem, não é gente de confiança. No entanto, existe efetivamente em andamento uma operação da PF denominada Turbocred, que, na atual fase, concluiu por fraude em 90% dos contratos de financiamentos agrícolas concedidos pelo Banco do Brasil, de 2013 a 2015. Trinta e nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e Goiás. As diligências ocorreram em residências de tomadores de empréstimos, funcionários e ex-funcionários do BB, e de pessoas que atuaram como “laranjas” nas fraudes. Nenhuma referência foi feita, até agora, a Osmar Dias. No entanto, nesse período, ele era o vice-presidente de agronegócios do banco.

O atual flerte de Osmar com o DEM para favorecer a candidatura de Alckmin, do PSDB, faz parte do “diz-que-disse” pré-eleitoral, fomentado por candidatos em busca da reação do eleitor ou por adversários com o propósito de enredar o candidato com o seu eleitorado. Quer dizer, como costuma dizer o titular deste blog, pode ser tudo, como pode não ser nada. Ademais, custa-me acreditar que Osmar esteja propenso a apoiar Beto Richa. Seria um tiro no pé e com tal apoio ele renegaria boa parte da sua história.

Não conheço pessoalmente o ex-senador. Falamo-nos apenas por telefone. Ele foi meu cliente, quando eu advogava, na ação pública que o escritório Bacellar & Andrade Advogados Associados propôs contra a “privodoação” do Banco do Estado do Paraná e que até hoje dorme solenemente, sem julgamento, nos escaninhos da 2ª Vara da Fazenda Pública da comarca de Curitiba, do ínclito Judiciário paranaense. Além de Osmar, foram ainda autores os outros dois senadores pelo Paraná, Álvaro Dias e Roberto Requião.

Sei que Osmar tem (ou tinha) o gênio forte, às vezes é (era) de convívio difícil. Não deveria ter aceitado o cargo de vice-presidente de agronegócios e micro e pequenas empresas, no Banco do Brasil, nos tempos de Dilma Rousseff. Também precisa escolher melhor as suas companhias, nas chapas eleitorais ou fora delas. Entre os oportunistas de plantão e os falsos correligionários, deve se afastar de todos. E ficar com o eleitor.

Duas vezes secretário de Estado, dois mandatos como senador da República, Osmar mostrou excelente desempenho. Ao que me consta, é um homem de caráter, que honra compromissos e defende os interesses do Paraná. Dos atuais pré-candidatos ao governo do Estado, é o melhor disparado. Aliás, já poderia ter chegado ao Iguaçu, não tivesse sido traído desavergonhadamente por ex-aliados e ex-amigos. E, ainda assim, faltou muito pouco. Se vai dar certo, caso seja eleito, não se sabe. Mas ele precisa chegar lá para mostrar. Se nenhum fato novo ou revelação depreciadora comprovada lhe bloquear o caminho.

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