19:32ZÉ DA SILVA

Fiz tudo que não presta desde que rompi corrente e chutei a bola de ferro para o lixo da minha própria história. Confundi liberdade com libertinagem. Eu sou eu, Nicuri é o Diabo. Deste pedi a benção e, se fiz pacto ou não, esqueci por estar de porre. Fui atrás da grande seringa empunhada por Tina Turner e sua boca berrando Acid Queem. Deus salve é o caraio! Era o salve-se quem puder. Pensava assim enquanto pulava de peito na agulha que transpassou minha alma. A alucinação constante me fez encarar o nascimento dos filhos como uma viagem de LSD durante viagem de Kombi sem portas na Transamazônica. Tão forte era para aguentar anos na montanha russa descontrolada… enquanto me rasgava para produzir algo que se transformasse em dinheiro. Se houvesse vômito como o que matou Hendrix, estaria junto, na altura dos fatídicos 27 anos. Tiro no céu da boca, nem pensar. Preferi morrer aos poucos – e nem isso consegui. Me vi do alto depois do copo da gororoba da União Vegetal. Jackson do Pandeiro tocou naquela cerimônia, mas o delírio mesmo foi quando o mestre trouxe todo mundo de volta – quando assim resolveu. Então, num certo amanhecer, enxerguei a copa de uma araucária de 80 anos. Não houve milagre. Apenas ela lá, com todos os braços abertos para me receber. Sem cobrança. Sem procura. Apenas assim. Então, fiquei – e consegui enxergar o resto.

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