11:07Quem tem medo de Ratinho?

Por Ivan Schmidt 

Em meio à sarabanda que é a política brasileira, na qual já não se consegue discernir entre o verdadeiro e o falso, entre o bem e o mal, entre a esquerda e a direita, para aproveitar a objetividade do conceito formulado pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, em seu mais recente livro (Alfabeto da sociedade desorientada, Objetiva, SP, 2017), deixo para os mais competentes a análise das agruras de Michel Temer e Aécio Neves, o depoimento e a carta de Antonio Palocci pedindo desfiliação do PT e, como não poderia deixar de ser, o cipoal em que está metido o ex-presidente Lula que quanto mais de mexe mais fica entalado.

Prefiro assunto mais prosaico e lembro que apesar do tempo que nos separa das eleições gerais de 2018, vários candidatos e/ou hipotéticas candidaturas vão aparecendo para, na medida do possível, firmar-se num cenário situado sobre um lençol de areia movediça, tais são as marchas e contramarchas da política.

Para começo de conversa nem se sabe ao certo qual será a legislação (a atual ou a que brotar da encalacrada Reforma Política), que deverá orientar os partidos em relação ao processo eleitoral do ano que vem, de modo que muitos dos que afirmam serem candidatos a este ou aquele cargo, daqui a algum tempo poderão estar completamente esquecidos.

No Paraná, contudo, um nome já se sobrepõe aos demais e confirma com ações claramente planejadas a real intenção de competir pelo posto de governador do Estado.

Trata-se do deputado e ex-secretário do Desenvolvimento Urbano, Carlos Massa Ratinho Jr, que renunciou ao cargo e retornou à Assembleia Legislativa para sentir-se mais à vontade na estruturação da campanha, mesmo que em fase preliminar.

Os demais pré-candidatos são a vice-governadora Cida Borghetti e o ex-senador Osmar Dias, despontando outro júnior – o prefeito Cesar Silvestre, de Guarapuava – muito embora se deva contar com o surgimento de mais disputantes, quem sabe, inscritos pelo PSDB, PMDB, PT, PPS, PSB e até por partidos menos expressivos.

Deve-se afirmar, porém, que Ratinho Jr é o pré-candidato que se movimenta com maior desenvoltura nesse picadeiro, dispondo além das facilidades do mandato de uma série de contatos com lideranças políticas do interior, especialmente com os prefeitos das regiões mais importantes do ponto de vista eleitoral.

Desde os tempos do governador José Richa, é sabido que o bom entendimento e a aproximação do pretendente ao cargo máximo do Estado com prefeitos, líderes de empresas e, especialmente, do agronegócio – a mola mestra da economia paranaense – tem sido vital para reforçar a pretensão de quem quer chegar vitorioso ao Palácio Iguaçu.

Foi assim também com o governador Álvaro Dias, que ao cumprir o mandato por inteiro conduziu com notável espírito de liderança duas campanhas, a primeira para a eleição de prefeitos municipais e a segunda para o governo estadual, quando Roberto Requião suplantou aos 48 minutos do segundo tempo (ou turno se preferirem) o candidato que passou todo o tempo em primeiro lugar nas pesquisas, José Carlos Martinez, o Batatinha.

Há quem afirme que a candidatura de Requião foi imposta pelo próprio à ala mais à esquerda do PMDB curitibano que forçou a barra e acabou ganhando o acolhimento do governador Álvaro Dias.

Entretanto, o fardo foi difícil de carregar e para analistas políticos da época, Requião somente venceu a eleição no domingo do segundo turno, já que na véspera a pesquisa Datafolha apontava o empate técnico entre ele e Martinez.

Álvaro já havia dado uma demonstração cabal de liderança política na campanha municipal, na qual o PMDB elegeu os prefeitos da maioria dos municípios de médio e grande porte – um autêntico passeio – à semelhança da campanha liderada por José Richa, que inclusive elegeu os prefeitos dos 13 municípios chamados de segurança nacional localizados nas faixas de fronteira.  Richa, com sua costumeira bonomia dizia ter dado “zebra” na eleição paranaense.

Não se pode esquecer que na campanha seguinte, José Richa voltou a disputar o cargo de governador pelo PSDB, mas foi literalmente massacrado pelos antigos aliados e alijado do segundo turno. A hegemonia peemedebista nas principais prefeituras do Estado viria a derruir completamente no primeiro mandato de Requião, que na campanha em que atuou em prol de aliados elegeu somente prefeitos de pequenos municípios, mantendo apenas a prefeitura de Foz do Iguaçu com a eleição de Dobrandino Gustavo da Silva.

Ratinho Jr parece ter absorvido bem essa lição da política paranaense, deixando-se convencer pelo sólido argumento da vantagem de percorrer o interior para contatos com políticos capazes de influenciar as decisões do eleitorado, ou seja, prefeitos, vereadores e deputados das respectivas regiões.

E parece ponto pacífico que o pretendente ao Iguaçu já tem registrado em sua contabilidade eleitoral o precioso ativo representado pelo apoio direto e irrestrito do governador Beto Richa, que segundo especulação prontamente desmentida estaria movendo as peças para acertar a ida da vice-governadora Cida Borghetti para o Tribunal de Contas, dando maior musculatura à pretensão do ex-secretário.

Ressalto que tal especulação foi desautorizada no ato pela principal interessada e, desde então, mantida abaixo da linha d’água, conquanto confirmadíssima por pitonisas de plantão que acertam nove entre cada dez previsões políticas. A conferir.

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Uma ideia sobre “Quem tem medo de Ratinho?

  1. Zé Ninguém

    O povo não tem medo do Ratinho, tem medo sim é do pai dele, porque o cara é uma incógnita, até hoje ninguém ficou sabendo ao certo como é que de simples repórter do Cadeia virou dono de rede de televisão. Isto sem falar dos cuecas de seda, esta praga que infesta tudo quanto é órgão público e empresas estatais, estes morrem de medo do pai do Ratinho.

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