13:21“Senhor República”, todo o fascínio da vida de Teotônio Vilela

por Dirceu Pio

Ele foi um dos personagens mais notáveis da política brasileira no Século XX: Teotônio Vilela, hoje conhecido como O Menestrel das Alagoas, imortalizado que foi por Milton Nascimento/Carlos Brandt, em música transformada em hino das “Diretas Já”, na voz de Fafá de Belém…

Demorou, mas apareceu um biógrafo à altura do personagem: o jornalista Carlos Marchi, autor de Senhor República, Editora Record, já em todas as boas livrarias do país a R$ 62,90!

Quem prefacia o livro é também minha amiga Eliane Cantanhede, que diz sobre o autor: “Carlos Marchi é um dos jornalistas mais talentosos e um dos textos mais impecáveis da minha geração”.

Carlos Marchi me fez, a pedido, um resumo da obra. Antes de transcrevê-lo gostaria de      deixar registradas as circunstâncias em que tive o privilégio de conhecer Teotônio Vilela…

Foi nos primórdios dos anos 1980, em Curitiba. Ele havia começado há várias semanas a sua famosa cruzada democrática: visitava solitariamente as principais cidades do país, contatava alguns poucos jornalistas e intelectuais, fazia pequenas reuniões em recinto fechado e gastava várias horas de conversa para expor suas convicções políticas… Vivíamos  a última fase da Ditadura Militar e ele pregava, como autêntico menestrel, a necessidade urgente do restabelecimento do estado de direito…

Eu era na época chefe da Sucursal dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde no Paraná e fora convidado para fazer parte do pequeno grupo que foi recebê-lo no aeroporto e conduzi-lo a reuniões fechadas no centro da cidade…

Havia sinais de exaustão do regime militar… Eu mesmo entrevistara o Brigadeiro Délio Jardim de Matos, com exclusividade… Délio estava hospedado na casa de parentes em Curitiba e eu fui levado até ele pelo então diretor da minha sucursal, Nacim Bacila Neto, que me alertara que ele falaria algo importante… E falou mesmo: foi a primeira vez que um militar (Delio era uma espécie de porta-voz do governo) admitiu que a “abertura política” estava a caminho… A entrevista foi manchete do Estadão e alcançou grande repercussão na época…

E veio primeiro a abertura, em seguida veio a anistia, que deu início às Diretas Já! E o personagem agora biografado pelo meu amigo Carlos Marchi teve um papel importantíssimo em todo o processo coroado pela redemocratização, iniciada em 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello!

Trago na lembrança a imagem de um cidadão de verdade, Teotônio Vilela!

AUTOR NOS PREPARA PARA UMA LEITURA BEM PROVEITOSA

Vejam agora o resumo que me foi enviado por Marchi: “…acho que o essencial do livro é traçar a trajetória de um homem que evoluiu ao longo da vida política. Era um liberal clássico no começo, passou a encarnar um liberal social, digamos assim, e chegou, no final da carreira, a abraçar uma postura de esquerda.

Acima de tudo, defendeu as liberdades; quando Carlos Lacerda propôs que a UDN ficasse contra a posse de João Goulart, Teotônio opôs-se a ele e nisso juntou-se a sua grande referência política, Milton Campos.

O livro mostra a fundamentação do liberalismo no mundo e no Brasil; e explica a dicotomia que fulminou a UDN – uma parte queria uma democracia legítima, outra parte atuava como cassandra de golpes.

Cometeu dois grandes equívocos – apoiou o impeachment do governador Muniz Falcão, em 1957 (quando foi relator do impeachment na Assembleia alagoana), e que redundou no trágico tiroteio na Assembleia; e apoiou o golpe de 1964. Mas foi o grande artífice da anistia, quando fustigou o governo Figueiredo com uma campanha nacional de visitas aos presos políticos.

Acabou candidato à presidência da República (o PCdoB o lançaria) mas foi abatido pelo câncer”.

Teotônio Vilela nasceu em Viçosa (maio de 1917) e morreu em Maceió (novembro de 1983)…

Além de descrever sua surpreendente carreira política, o livro traz muitas  revelações, como a informação de que ele quase foi cassado duas vezes: na primeira, foi salvo pelo governador de Alagoas, Luiz Cavalcante, general da reserva e amigo do marechal Castello Branco; na segunda, quem o livrou foi seu amigo de juventude, com quem estudou, no Rio, para entrar na Escola Militar de Realengo, o coronel Mário Andreazza.

Há também várias outras curiosidades, como:

– A canção “Menestrel das Alagoas” foi composta por Fernando Brant e Milton Nascimento a pedido do PCdoB, que imaginava usá-la numa eventual campanha presidencial.

– A conversão de Teotônio para a esquerda foi substancialmente estimulada pela paixão devastadora que ele teve por Maria Luíza Fontenele, a primeira prefeita eleita (pelo PT) de uma capital brasileira. O amor também foi interrompido pela doença.

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3 ideias sobre ““Senhor República”, todo o fascínio da vida de Teotônio Vilela

  1. Sergio Silvestre

    Pois é né,Teotônio Vilela,Tancredo Neves,José Richa,ou seus brotos eram enxertos ruins ou a história foi muito dadivosa para esses personagens,até por que Minas com Tancredo e Alagoas com Teotônio são estados onde a miseria e os currais eleitorais fazem do povo pobre reféns.
    O Temer também com frases de efeito e uma mídia amiga e sem os Joesleys da vida seria amanhã contado em provas e versos por escritores enchedores de linguiça.
    Eu não acredito nesses políticos tidos como bons,até por que Mario Covas que diziam ser o PROBO do PSDB enriqueceu sua familia doando concessões de pedágios e hoje o tla ‘ZUZINHA’ ´é milionario graças ao Pai.

  2. Rogério Distéfano

    Está mais do que na hora de Sérgio Silvestre ter seu espaço para escrever na página principal do blog. Um leitor que lê todos os posts e faz comentários sobre eles deve deixar essa condição e passar a opinar, escrever sob autoria. Não concordo com nada do que ele escreve, mas considero este comentário de hoje inspirado, algo que o credencia para escrever em nome próprio. Dou-lhe o maior apoio, ainda que tenha sido, vez ou outra, vítima de seus petardos.

  3. Sergio Silvestre

    Que nada Rogério,nem sei escrever,sou apenas um pequeno “cômico’ um comicuzinho qualquer,

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