19:06ZÉ DA SILVA

Estava no fundo do mar há dias. Bolas de ferro presas aos tornozelos. Não morreu, mas sentia-se apodrecer. Mais que isso, nacos de carne eram arrancados por toda espécie de peixes – dos minúsculos aos tubarões. Por que tinha de pagar dessa maneira, não imaginava. Sentia dores lancinantes. Os dentes dos insaciáveis eram lâminas afiadas. Não clamou por deus ou o diabo. O sofrimento não deixava. Não ouviu o canto da sereia nem Iemanjá se dignou a aparecer. O casco de um barco parou a vários metros da sua cabeça. Ele se sentiu gratificado por não terem lhe comido os olhos. Alguém mergulhou. Parou na sua frente. Olhos claros e uma arma na mão. O arpão atravessou o coração.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.