12:24SOBRE PRIMOS & IRMÃOS

Rogério Distéfano

O QUE HÁ DE COMUM entre Michel Temer e Beto Richa? Duas coisas. Os dois são ‘turcos’ e ao menor sinal de perigo renegam os parentes. Richa renegou o primo próximo que virou distante na primeira falseta. Temer renegou o filho adotivo na primeira falseta. Temer, faça-se-lhe justiça e mesóclise, deu o benefício (!?) da dúvida ao filho ao reconhecer-lhe a boa “muito boa índole” – o advérbio a qualificar o sujeito e o adjetivo. Richa? Nem isso.

Coisa de turco, fazendo injustiça contra os turcos, o termo genérico que abriga sírios e libaneses brasileiros. Turco, por aqui, só sei de um: Ibrahim Eris, presidente do Banco Central no governo Collor. Eris, turco de raiz, falava um português sem artigos. Os turcos têm culpa de nossas mazelas porque ali pelo século VII saíram do Turcomenistão e passaram a detonar o Império Romano do Oriente. Daí pra frente naqueles lados todo mundo virou turco.

Qual o problema com nossos turcos? Penso que está no excesso de intimidade. É primo pra cá, patrício pra lá, sejam ou não parentes ou co-turcos. Na primeira aprontada, tornam-se inimigos, não se olham, mal se enxergam, o parentesco e a origem no beleléu. Os outros semitas, os judeus, são ligeiramente diferentes. Não cultivam grandes intimidades, dentro ou fora da colônia, nem quando casam entre si. Não têm isso de ex-primo e ex-patrício.

Não estou a puxar a brasa para a truta judaica, sou mais chegado ao quibe que ao kneidlach, com perdão às amigas que me alimentam no Roshashaná. Faço exceção ao gefiltefishe da doutora Siomara Schulman, que desfruto de joelhos. Turcos e judeus aqui aportaram em transportes e sob trajetos diferentes. Os turcos chegaram na tríplice fronteira, carteira de identidade emprestada pelo primo que chegou antes, a carteira que serviu ao clã inteiro. A carteira garante gratidão, reconhecimento? Este autor diverge.

Os judeus saíram da Bielorrússia e da Bessarábia nos mesmos navios, acomodados na terceira classe. Lá embaixo trocavam comida, faziam amizade, emprestavam as meias uns aos outros. Têm nome para isso – shifbrider, em língua de judeu, irmãos de navio. Enquanto os turcos são primos, os judeus são irmãos. O judeu Gerson Guelmann não deixaria Luiz Abi Antoun e Rodriguinho Rocha Loures ao sereno. Estou de prova. Sou meliante juramentado, como diz nosso querido Célio Heitor, tenho péssima índole. Mas Gerson e eu somos irmãos de internato. E ele nunca me renegou. 

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