7:24No vácuo

Os senadores abusaram da autoridade e aprovaram ontem o projeto de lei sobre abuso de autoridade, que agora vai para votação na Câmara dos Deputados. Roberto Requião, o relator, pra variar, pipocou em alguns pontos, mas navega nos seus 15 segundos de fama na capital federal, onde é conhecido mais como o destemperado que é do que outra coisa. Está em campanha na província. Perto de completar oito décadas de existência, quer se reeleger para não entrar no buraco que se abre aos maníacos depressivos quando as luzes se apagam e o poder, do qual ele se valeu para abusar da autoridade, é apenas uma lembrança. Não se tira o mérito de ele ser, talvez, o último grande líder da política deste Paraná que governou por três vezes de acordo com o estado de espírito com que acordava – e revelava sempre na famigerada “Escolinha”, onde distribuía destemperos aos inimigos e aos secretários que apanhavam e riam como se estivessem sendo elogiados. Muito inteligente, o senador ganhou de presente a relatoria deste projeto parido por… por… Renan Calheiros, aquele. Ontem, durante o trâmite da votação na Comissão de Constituição e Justiça, um fotógrafo da Folha de S.Paulo registrou a conversa entre o paranaense que se apresenta como um ser acima do bem e do mal – e que chama eleitores contrários ao projeto de imbecis e loucos, ao lado do parceiro alagoano e Romero Jucá, dois dos quase trinta parlamentares do Senado que estão atolados na Lava Jato. Ele, Requião, diz que seu substitutivo não tem nada com o escancarado movimento dos poderosos parlamentares, ministros e até do presidente Michel Temer, manchados pelas denúncias do propinoduto escrachado pelos procuradores e Justiça Federal, para barrar o caminho que revelou em que cloaca chafurdam os que comandam os destinos do país. Requião sabe conversar para boi dormir, tanto que tem uma séquito de abduzidos que, como acontece na história da humanidade, bebem suas palavras como saídas da boca de uma divindade, mesmo que elas conduzam ao precipício. O senador escolheu na figura do juiz federal Sergio Moro seu alvo para demonstrar algo que só os tapados acham que tem. Na verdade, ataca com o objetivo de amealhar votos para o ano que vem, principalmente dos órfãos petistas – e para isso conta com a ajuda de Gleisi Hoffmann (ré na Lava Jato), aquela cujo marido, Paulo Bernardo, foi acusado por ele, Requião, de tentar corrompê-lo. Resumindo: o ex-governador, como um carro de fórmula 1 sem motor, aproveita o vácuo de outro, mais potente – e faz qualquer coisa para não sair dali. Seria cômico se não fosse triste.

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