18:58ZÉ DA SILVA

No madrugada em que destruí a televisão com a machadinha, ela estava ligada e não passava nada. Era o tempo em que todos os canais saíam do ar à meia-noite ou algo assim. Claro que estava cozido. Vi alguém acordando assustada e correndo para fora da casa, achando que perderia a cabeça ali mesmo. Não pensei nisso, mesmo chamando Jesus de Genésio. Era a tv, a máquina de fazer doido, o aparelho de emburrecimento geral e anestesiante de um povo sofrido, etc. Comprei outra, maior, no dia seguinte. Não faria de novo. Hoje, muito menos. Uma coisa grande, cuja tela é definida por um código de letras, não tem aquele charme e, com medo, acho que se atacar tudo vai explodir. Não que tenha pensado nisso, porque água e suco não dá barato. Zapeando na madrugada se acha coisa boa. Por exemplo: aquele canal a cabo que faliu e fica 24 horas com o olhar fixo da câmera num trecho do calçadão famoso. Deixo ali a imagem e fico esperando que alguém passe no meio da madrugada. Seria um conhecido furando a névoa e o ambiente alaranjado? Dizem que sou louco por eu ter um gosto assim, mas não posso fazer nada. Planejo ir até lá, numa madrugada qualquer, me colocar na mira da câmera e, pelado, só com meias soquete preta, ficar pulando em cima de um colchonete. Performance, direi para a polícia se ela for chamada. Melhor do que empunhar uma arma branca, que pode ser um machete, e destruir, para me atrapalhar. Ou não?

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