19:00ZÉ DA SILVA

É tudo verdade! Comecei a cortar a língua dos falastrões depois que vi aquele filme do Pasolini – num cine pornô da praça do Centro onde ficam os terminais dos ônibus que levam o povo de volta para o subúrbio. O programador confundiu tudo, como agora no país.  Saio com a navalha, pego o filho da peste bubônica, dou-lhe uma no meio dos cornos, abro a boca do lazarento e corto, sem pena ou piedade, puxando aquela língua com tanta força que, qualquer dia, ela desgruda do dono antes da “cirurgia”. Já me acostumei até com a sanguera. Porque faço isso várias vezes ao dia, tal a quantidade de enganadores que estão por aí se apresentando como representantes do povo de um lado e, do outro, metendo a mão no jarro. Teve um infeliz que fiz sem a pancada. Ele gritava feito porco quando a gente enfia a faca no coração do bicho. Antes, minha vítima se borrou todo, mas o fedor estimula quem quer fazer a limpeza. Sei que essa missão é impossível no Brasil – mas quem ainda não ficou mudo, está preocupado. Um outro eu preguei a lingueta, com  pregos enferrujados, numa tábua daquelas pesadonas. Sempre cumpro a missão com delicadeza. Meu coração é de anjo – mas não consigo me controlar quando atiçam meus demônios.

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