5:47De repente, virei alemão e Gonçalves

por Célio Heitor Guimarães

O “culpado” foi o sempre cordial Mário Diney Corrêa Bittencourt, competente advogado e excelente figura humana. Ele queria dados sobre o Dr. Francisco Alves Guimarães, meu bisavô paterno, para completar o registro no Instituto dos Advogados do Paraná. A família tinha poucos, nunca deu maior importância à questão da genealogia. Aí, fui atrás dos Guimarães.

Primeiro susto: eu, que até tinha um certo orgulho de descender de portugueses por parte de pai, descobri que sou só alemão. Explico: já carregava a descendência alemã dos Lorenzen (de origem dinamarquesa) e dos Rauth (de origem austríaca), do lado materno, e dos Richter, do lado paterno. Agora, descubro que o Guimarães também tem origem alemã. Quer dizer, passei a ser um autêntico “deutsch”, quase um discípulo do “führer”.

É que, segundo os compêndios e, claro, a wikipédia, pouco importa que a história da família se funde com a história da nacionalidade do mundo ocidental, já que a região de Guimarães foi berço da primeira nação ocidental, a portuguesa, o apelido tem origem germânica, derivado de Wigmar  – “cavalo (marah) de combate (wig)” –, formando o nome de “homem de Vimara” e a expressão Wimaranis (vila ou quinta de Vimara). A cidade de Guimarães, nascida por volta do século X, teria sido, originalmente, Wimaranes; depois, Guimaraens.

Segundo susto, este dado pelo ex-urologista e atual acupunturista Lício Portes, que também é Guimarães: os Guimarães, que chegaram ao Brasil, durante a imigração portuguesa, não eram, originalmente, Guimarães, mas Gonçalves!

Revela o Dr. Lício que era tanto Manoel Gonçalves, Antonio Gonçalves, Francisco Gonçalves, Joaquim Gonçalves que o agente da imigração previu a confusão que iria dar. E indagou do Gonçalves à sua frente (talvez mais um Manoel) de onde ele viera. “Da região de Guimarães, norte de Portugal”, foi a resposta. “Pois então você vai passar a chamar-se Manoel Gonçalves Guimarães”, decretou o homem da alfândega.

Quer dizer, eu que era feliz por ser eventual parente distante de Guimarães Rosa e de Ulysses Guimarães, passei a ser primo de Gonçalves Dias e, quem sabe?, de Nelson Gonçalves e até da desbocada Dercy…

Olha, prezado leitor, se quer um conselho, não passe a fuçar na genealogia. Você pode ter grandes surpresas. Algumas agradáveis, outras nem tanto.

Ah, sim, a quem interessar possa: sobre o Guimarães que começou essa conversa, o Dr. Francisco Alves Guimarães, descobri que era curitibano de 1º de abril de 1845, filho de João Francisco Guimarães e de Francisca de Paula Santos. Morou na antiga Rua do Comércio, hoje, Marechal Deodoro. Formado em Direito em 1867 pela Academia de Direito de São Paulo, SP, exerceu a advocacia e foi jornalista. Com 23 anos de idade, foi eleito deputado provincial, pelo Partido Liberal, ferrenho adversário do Partido Conservador. A eleição ocorreu em 07.09.1867 e Francisco foi o candidato mais votado, com 133 votos, representando a região de Guarapuava.

Foi promotor público das comarcas de Guarapuava e da Lapa, PR. Nesta última, foi também juiz municipal e juiz de Direito (1872), cargo que exerceu igualmente em Uruguaiana, RS. Em 4 de julho de 1878, foi nomeado para o cargo de Inspetor da Tesouraria Provincial, e foi ainda diretor da Instrução Pública.

Nos poucos anos em que viveu (apenas 45) – faleceu em 03 de setembro de 1890, vítima de moléstia contraída no desempenho das atividades de magistrado em um país sem nenhum saneamento básico –, desenvolveu intensa atividade, sobretudo no meio político-jurídico-intelectual.

Na Lapa, onde está sepultado, foi um dos fundadores, em 29 de julho de 1873, da Associação Lapeana de Letras, uma das primeiras entidades culturais do Brasil, anterior mesmo à Academia Brasileira de Letras, e um dos idealizadores da construção do histórico Teatro São João, datado de 1876.

Era cavaleiro da Ordem da Rosa, por deferência do Imperador Pedro II.

Era também maçom em grau elevado.

Nomina rua no bairro do Cristo Rei, em Curitiba, e na cidade da Lapa, PR.

Francisco Alves Guimarães foi casado com a lapeana Ambrosina Rosa Guimarães, possivelmente sua prima, e teve oito filhos: Alberto Alves Guimarães, Etelvina Guimarães Cortes, Heitor Alves Guimarães (meu avô), Julieta Guimarães Aguiar, Leonor Guimarães Machado, Honestálio Alves Guimarães, Olyntho Alves Guimarães e Francisco Alves Guimarães Filho.

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3 ideias sobre “De repente, virei alemão e Gonçalves

  1. Alex

    Adorei ler este assunto e meu nome completo é Alexandre Moreira Guimarães Neto, tenho 33 anos e no dia 21 de maio farei 34 anos, possuo o nome igual do meu avô parterno que nasceu em 3 de maio de 1882 e em sequência que o nome foi herdado do meu bisavô e também fiquei admirado tanto pela origem germânica e por isso falo alemão e amo incondicionalmente este belo país e até já morei lá e o Moreira que possuo também no nome é de origem portuguêsa de algum vilarejo que possivelmente cultivava amoras e originalmente era de nome Amoreira por este motivo e pela conclusão com porcentagem enorme de confirmação o nome Moreira é de origem judaica também como todos os nomes que exaltam a natureza por causa da perseguição da igreja católica foram obrigados a se converterem para se tornarem novos cristãos.

  2. Luciana Rigon Lemos Torres

    Estava eu aqui em busca de minha genealogia quando me deparo com este belíssimo texto do meu querido e estimado tio Célio! Amei!

  3. Adilmari Guimarães adilmar

    Amei o documentário, história do meu amado avô Francisco Alves Guimarães.
    Os nomes destes tios ,citados no texto, me são muito familiares pois cresci com os Guimarães.
    A minha família, Rocha Pombo/Guimarães me fez uma pessoa sensível, bem humorada e grata,muito grata a todos os meus ilustres ascendentes.
    Só, desconhecia o alemão dos Guimarães!
    Sempre me senti portuguesa, com certeza!!!!

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