21:59Sob a lua cheia

zbchuckberrytremendoChuck Berry em Curitiba – Foto de Roberto José da Silva

Não tem essa de pai do rock, porque isso só acontece para quem nem sabe o que é pai. Chuck Berry era o rock. Pobre de nascença, preso em reformatório, disparou fúria, canalizou a força na música, na voz, na guitarra, fez sucesso, fama mundial, influenciou brancos de alma negra, se manteve fiel ao que pensava e agia como. Não cantava antes de receber o cachê. Não tinha banda, porque, famoso, para onde ia os músicos locais que o acompanhavam tinha de saber os acordes dos seu repertório. Pedia sempre um Bentley para ir do hotel onde o hospedavam em suítes de rei, ao palco, onde estacionava ao lado ou ao fundo. Uma loiraça de cinco metros de altura era a companhia que gostava. Foi assim que, sob uma lua cheia a iluminar o Cristo Redentor e a lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, ele subiu ao palco para extasiar quem não tinha o visto e ouvido ao vivo. Estar lá e, depois, ser brindado com outro monstro sagrado da música, o senhor Litle Richard, é de se perguntar: precisa mais? Berry veio a Curitiba há pouco tempo. Já debilitado pela idade, nem os acordes clássicos conseguia reproduzir. Precisava. Ali, sim, estava uma lenda – por isso muita gente fez questão de levar filhos, como o signatário, para que, depois, muito depois, contasse aos filhos que estava presente naquela que foi a cerimônia de despedida do Brasil. Porque a música dele é eterna, como só acontece com estes abençoados pelo dom. No caso, o rock. Chuck Berry um dia foi homenageado por Keith Richards, a alma dos Rolling Stones, com um show. Nos ensaios, por não gostar de algum acorde do inglês, ou algo parecido, deu um tapa na cara do guitarrista. No belo documentário sobre o espetáculo, Richards conta que só não esfaqueou-o porque era Chuck Berry. Este, que se foi hoje, com a missão cumprida. Para sempre. Amém.

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