19:58ZÉ DA SILVA

Pedro da Vita é meu tio motorneiro no Rio de Janeiro. Um dia me levou para passear sobre os trilhos. Nunca mais saí daquela fantasia real. A cidade, que continua maravilhosa, apesar de todas as tentativas em contrário, era mais mágica no início dos 60. Pedro pilotava aquele Expresso 222 todo aberto, bancos de madeira, gente nos estribos, sorrisos, gargalhadas, flertes, brisa atravessando tudo. De um lado o Pão de Açúcar, do outro o Cristo Redentor – e minhas pernas tremendo de emoção e à mostra por causa da calça curta sustentada pelo suspensório. Quantos anos? Cinco, seis? Que importa? Anos antes Pedro foi quem recebeu meu pai na cidade. Moraram juntos em pensão em Botafogo, ali ao lado de Nilton Santos, Didi e Garrincha. Fora do trabalho, andavam pela Lapa de Madame Satã dentro de seus ternos com paletós estilo jaquetão, seis botões, chapéus de aba caída sobre os olhos e os sapatos brilhando como o sol e a lua daquela cidade. Pedro era rei no bonde – ele com seu boné imponente sobre o rosto redondo, bigode espesso e uniforme azul. Não saí de lá porque o bonde não saiu de mim. Viagem real, com trilho, sem trilho, mas em frente – sempre.

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