19:00Mario Filho, por Nelson Rodrigues

– Se Deus entrasse na minha sala e perguntasse: – “Você queria escrever como Guimarães Rosa ou como Mario Filho?”, eu responderia: – “Mario Filho, mil vezes Mario Filho”. Meu irmão foi minha única inveja literária.

– Mario Filho era um desses homens fluviais, que nascem de raro em raro. Disse fluvial e explico: – imaginem um rio que banhasse e fertilizasse várias gerações.

– Há mais de quarenta anos, não há cronista em todo o Brasil, não há vocação, não há talento que não tenha recebido a sua luz decisiva. Morreu e continuamos a viver das rendas do seu gênio. Hoje, eu e meus colegas andamos por aí realizados, bem vestidos, temos automóveis; nos sábados, frequentamos restaurantes; passamos de fronte erguida e o nosso palpite tem a modéstia do Juízo Final. Mas gostaria de perguntar: – o que era e como era a crônica esportiva antes de Mario Filho? Simplesmente não era, não existia. Sim, a crônica esportiva estava na sua pré-história, roendo pedra nas cavernas.

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