4:35Greca e Gulin no Country: parceria nada impossível

greca+gulin

por Celso Nascimento, no jornal Gazeta do Povo

Rafael Greca é o prefeito de Curitiba que, no dia 6 passado, aumentou a tarifa de ônibus de R$ 3,70 para R$ 4,25. O empresário Donato Gulin (e família) é dono de 70% das linhas do transporte coletivo da capital. Três dias depois do reajuste,na quinta-feira (9), a partir das 18h30, eles se reuniram no refinado ambiente do Bar do Golf, bem defronte ao campo de golfe do Graciosa Country Club. Àquela altura nenhum dos dois imaginava que o Tribunal de Contas iria cancelar o reajuste da passagem.

O abelhudo fotógrafo que teve a gentileza de enviar o flagrante para a coluna bem que tentou ouvir o que conversavam os dois amigos, que tinham como companhia dois outros convivas. A distância não permitiu ouvi-los. Como um deles falava com a boca cheia, até mesmo um especialista em leitura labial teria dificuldades para fazer tradução razoável. Diante de tais impossibilidades, mas com base no contexto e nos interesses que não raras vezes unem o público ao privado, é possível fazer algumas conjecturas:

• Gulin teria convidado o prefeito para o happy hour em gratidão pelo aumento?

• Foi protestar contra o fato de a tarifa do usuário ter ficado abaixo da tarifa técnica de R$ 4,57 reivindicada pelo Setransp, o sindicato dos empresários?

• Rafael teria comunicado que, conforme prometera na campanha, vai rever o polêmico contrato firmado em 2010?

• O prefeito teria avisado que o aumento obrigará as empresas a renovar a frota sem mais discussões judiciais?

• Seria este o momento próprio para Rafael agradecer por suposta ajuda para a sua campanha?

• Poderiam ter combinado estratégias para evitar uma greve de motoristas e cobradores se não ficarem satisfeitos com o dissídio do dia 26?

• Teriam se concentrado em resolver o teorema rafaelino segundo o qual “as coisas custam o que custam”?

• Teriam conversado sobre acervos museológicos ou outras amenidades artístico-culturais?

Enfim, são tantos os temas em que a conversa poderia se desdobrar que o encontro entre o público e o privado se manteve envolto em mistério. Claro, nada os impede de ter convívio social — inclusive em lugar tão requintado como o Country Club —, mas se foi para tratar de assuntos de interesse da cidade que dependam de decisões de ambos e que afetem a vida do povo, melhor teria sido cumprir a liturgia institucional de se reunirem em audiência no gabinete prefeitural devidamente agendada e com toda transparência.

Sorry, periferia!

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