6:42O terreno, o acordo e o sigilo

Da Folha de S.Paulo, em reportagem de Rubens Valente

Empresário e ministro fizeram acordo sigiloso sobre terreno

O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), e uma empresa imobiliária fecharam um acordo particular e sigiloso para a compra de um terreno de R$ 56 milhões em Marialva (PR) em dezembro de 2013. Com o acordo, Barros se tornou dono de 50% do imóvel, embora na época detivesse um patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 1,8 milhão.

No período da compra, Barros era candidato a deputado federal pelo PP e ocupava o cargo de Secretário de Indústria e Comércio do Governo do Estado do Paraná.

Pontos do acordo são transcritos em outros documentos aos quais a Folha teve acesso em cartórios do Paraná. O acesso ao acerto principal, porém, foi negado à reportagem pelo Cartório Distrital de Aquidaban, em Marialva, que detém uma cópia do “instrumento particular de compra e venda”. Segundo o cartório, como foi uma transação particular, há impeditivo legal para as cópias.

“O documento só pode ser liberado com ordem judicial ou se as partes autorizassem”, informou o responsável pelo cartório. Outros três documentos relacionados ao acordo principal também foram acertos particulares cujas cópias não são públicas.

Folha então solicitou ao ministro Ricardo Barros, por meio da assessoria do Ministério da Saúde, às 12h desta sexta-feira (10) que ele fornecesse uma cópia dos quatro documentos. Não houve uma resposta até o fechamento desta edição.

Em nota divulgada um pouco antes, o ministério afirmara que “é evidente que, nos cartórios, estão claras todas as etapas do negócio”.

A venda foi acertada entre Barros, por meio de duas empresas com capital social de apenas R$ 10 mil cada uma, e a empresa do setor imobiliário Paysage, sediada em Curitiba (PR).

As duas famílias de Maringá (PR) que venderam os lotes, os Faion e os Dada, aceitaram um parcelamento. Barros disse à Folha que obteve R$ 13 milhões emprestados da Paysage para dar o sinal inicial de sua parte.

No primeiro trimestre de 2016, porém, as famílias passaram a pedir o pagamento de um resíduo que, em valores atualizados, atingiria R$ 7,5 milhões _o restante já havia sido quitado. Não houve acordo e as famílias recorreram à Justiça.

Na ação ajuizada em janeiro último em Marialva, as famílias pediram a intimação de Barros e de sua mulher, a atual vice-governadora do Paraná Cida Borghetti (PP), na condição de “garantidores e fiadores” da operação.

Em dezembro de 2015, o casal havia vendido as duas microempresas para a Paysage e dessa forma, segundo o ministro, foi quitado o empréstimo de R$ 13 milhões.

Em abril de 2016, o advogado que representa as famílias, Airton Martins Molina, tentou obter uma decisão judicial para garantir segredo de Justiça ao processo em Marialva. Segundo o advogado, Barros e sua mulher são “pessoas públicas, que em razão de seus cargos políticos, sempre recai especulações”.

O defensor disse que seus clientes “entendem que não é ético órgãos de imprensa fazerem uso deste processos, para terem notícias ou para macular a imagem dos executados”. O pedido do advogado não foi acolhido pelo Judiciário.

A divulgação do negócio feito pelo ministro desgastou a imagem dele e aumentou a pressão para que deixe o comando da pasta.

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2 ideias sobre “O terreno, o acordo e o sigilo

  1. Roberto Pedreira

    É inacreditável como poucas figuras passam incólumes pelos governos municipal, estadual ou federal, ter algum esqueleto no amário deve ser condição sine qua non para assumir um cargo.

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