21:32O DEUS-VERME

de Augusto dos Anjos

Fator universal do transformismo, 
Filho da teleológica matéria, 
Na superabundância ou na miséria, 
Verme — é o seu nome obscuro de batismo. 
Jamais emprega o acérrimo exorcismo 
Em sua diária ocupação funérea, 
E vive em contubérnio com a bactéria, 
Livre das roupas do antropomorfismo.  
Almoça a podridão das drupas agras, 
Janta hidrópicos, rói vísceras magras 
E dos defuntos novos incha a mão…  
Ah!Para ele é que a carne podre fica, 
E no inventário da matéria rica 
Cabe aos seus filhos a maior porção!

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3 ideias sobre “O DEUS-VERME

  1. Parreiras Rodrigues

    Quando ginasiano, AA era um dos meus favoritos. Não porque chegado à necrópsias, putrefação da carne, deixo bem claro Nem tentava entender os seus rebuscados versos. Gostava e pronto. E só.

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