16:20Passeio Público

por Fernando Muniz

        A garota atravessa o parque naquela manhã fria, mãos dentro do casaco, sem parar diante da banca de revistas, com medo de chegar atrasada ao novo emprego.

O sol, tímido, joga luz sobre um velhinho, sobretudo surrado, boné de operário a cobrir os cabelos ralos e luvas gastas, que não devem proteger coisa alguma. Seus olhos, azuis, espelham solidão e desalento.

Sente ternura por aquele homem, perdido entre os pombos, em um banco descascado, de mãos nervosas, uma esquentando a outra.

Ela acena, feito netinha ao avô; ele retribui com um sorriso tímido, dentes amarelados, irregulares. Sente um conforto manso, de quem faz o bem.

Aperta o passo; em cima da hora!

No meio do parque, entre árvores frondosas, sente um forte beliscão na bunda. Vira-se, assustada.

– Vamos pro meu quartinho – a boca do velhinho, escancarada, lasciva, quer devorá-la.

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