18:39ZÉ DA SILVA

O que eu vou dizer a eles? O sol inclemente do litoral penetra através do teto de palha daquele galpão. Há muitos olhos, ouvidos, rostos, almas, vidas, esperando que eu comece a falar. Vestem roupas maltrapilhas, mas limpas. As marcas da violência com que ser feriram durante anos fizeram um estrago muito grande em seus corpos – por dentro e por fora. Atendi a um pedido/súplica de alguém que tenta salvá-los. Sempre vou. Fechei os olhos e, ao abri-los já não via mais suas fisionomias características. Todos tinham a minha. Eles eram eu. Eu sou eles. Pensei nisso numa fração de segundos. Então, comecei: “Que bom que estamos vivos!”

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