18:41ZÉ DA SILVA

Quando pediram a senha pensei nas várias que eu tinha de decorar e não conseguia, assim como o RG e o CPF. Estava escuro. Primeiro ouvi um “alto lá”. Bem, tenho quase dois metros e a primeira coisa que falei foi sou eu mesmo. Meu carro velho tinha fundido o motor no meio de uma estrada que me levava para o mato. O mato era ali. Mato sem cachorro. Achei uma estradinha e achei, como nos filmes, que ia parar em algum casinha pequenina como lá na Marambaia só vendo que beleza. A voz, tentando ser grossa, mas falando, pediu de novo a senha. Eu disse que não ia dar. O tiro na noite fez barulho e clareou o perfil de quem falava. Sim, era um militar de capacete e fuzil na mão. Tremi ao ouvir de novo o pedido. Respondi que não sabia, tentei explicar o que tinha acontecido e a resposta que ouvi zuniu perto do meu ouvido direito. Virei e saí correndo feito um cavalo selvagem. Nunca soube o que era aquilo, mas imaginei que fosse algum acampamento de treinamento. O carro deixe lá para sempre. Era quase mais velho do que eu. Mas as senhas, depois disso, passei a saber de cor.

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