9:16A VIDA COMO ELA É

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Luiz Carroceiro, em Minador do Negão (Alagoas) – Fotos de Ricardo Silva

Mostre mesmo o dente, Luiz, único, cercado de barba desgrenhada na cabeça protegida por este chapéu de couro que protege a moleira do sol infernal – e amolece a mente. Mais brasileiro, impossível, em suas roupas de anos, encardidas, principalmente embaixo do sovaco, porque você é trabalhador porreta, que leva daqui pra lá e de lá pra cá as safras que não são recorde, mas de sobrevivência neste Nordeste sem água, mas representado no Congresso por gente da estirpe do seu conterrâneo, ele mesmo, o presidente do Senado, aquele que tem cara de safado e fez o filho governador de todos os conterrâneos nessa terra onde, de vez em quando, vem à lembrança a Lurdinha do Tenório, aquele de Palmeira dos Índios e Nova Iguaçu, não pelo político, mas pelo cuspia da metralhadora. Eita, Luiz, você não sabe o que acontece por aí, mesmo que tenha a máquina de fazer doido que é a televisão e seus desinformativos. Precisa trabalhar, né, meu amigo, para sobreviver, criar a família e cuidar do seu amigo aí, o cavalo que puxa a carga e que, infelizmente, não sabemos o nome do nobre. Aqui no Sul maravilha a maioria das pessoas só conhece gente parecida com você pela telinha. Muitos acham até que deviam separar a pobreza daí da riqueza daqui. Deve ser para não contaminar. Aí, alguns, ficam falando em preconceito nas tais redes sociais, uma coisa que está deixando o povo como o diabo gosta, porque o contato não existe, o olho no olho, o cheiro, o fedor, a paixão que invade, enfim. Onde isso vai parar não é coisa pra gente pensar. Mas, voltando, esse povo não conhece nem o bairro do subúrbio, onde muitos daí desembarcaram por uma vida melhor e também são segregados – no espaço e na muralha erguida por queixos empinados por causa do que acham ser o poder, ou seja, a grana, muitas vezes de origem empesteada, suja até de sangue. Sem te conhecer foi bom te conhecer aqui, Luiz, porque, ainda bem, conheço muita gente aí mesmo, perto do palmo de terra deixada pelos ancestrais, onde uma mangueira e uma jaqueira dão lição de vida para quem olha, mesmo tendo em volta, como agora, terra esturricada como a que vemos nestas fotos do artista que mora por aí. Sem te conhecer, sei que você, meu amigo, é “pau de goiabeira”, aquele que verga mas não quebra, gente que poderia ser lição para qualquer perfumadinho pai d’égua daqui e acolá deste país que não se conhece – e por isso é essa esculhambação sem solução.

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2 ideias sobre “A VIDA COMO ELA É

  1. Alexandre rodrigues

    Nos meus sonhos de criança,não vejo um sol turvo,nem as águas barrentas,a lua é mais azulada,o ceu é mais estrelado e você corre pelas colinas atrás da cobertura de neblina,como é bom desenterrar sonhos.

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