19:23ZÉ DA SILVA

Não aprendi nada até agora. Que bom! Sim, andei na corda bamba a cinco mil metros de altura – e sem rede de proteção. Não caí porque alguma coisa existe, que eu não sei, mas está comigo. Os demônios, imaginei, tomaram conta de mim durante décadas. Talvez desde a estréia no mundo. Quase fui levado cedinho, com alguns dias de vida. Desenganado! Que palavra. Veio alguém de longe, batizou, tirou do paganismo, carimbou passaporte. Me recusei a ir. Fiquei apavorado com o que vi durante muito tempo. Mas isso, penso agora, me impulsionou para o desconhecido. Primeiro, o ruim, que eu achava que era bom. Depois o bom, que eu achava impossível, mas existe, porque é o normal, feijão com arroz, bife acebolado e um copo d’água. Se não tem isso, banana. Sou macaco. Branco, mas preto na beleza da alma que segura o tranco. Aprendi a rir já velho, por isso fico jovem a cada ano. Tive tempo de olhar pra trás e principalmente agora. Daqui a pouco já não sei. Os tesouros eu tinha e não os via. Não reclamo. Estagiário na profissão e na vida. Assim é. Há o amor. Há o sofrimento. A balança para, pelo menos, equilibrar, está dentro. Conseguir pensar é. Mas há a intuição – ou os dois juntos. Caleidoscópio, colagem de sentimentos, imagens, recordações, tatuagens na alma do que se lê, conversa, vivencia. Talvez porque tenha sido feito em absoluto silêncio. Na noite escura do sertão do fim do mundo. Fez-se depois a luz e inebriado fiquei. Como agora, tantos anos depois. Tateio para seguir. O bom é que nunca parei.

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Uma ideia sobre “ZÉ DA SILVA

  1. Ticiana

    Sua sabedoria é tão linda, de alguém que de fato aprendeu sim muita coisa, principalmente o valor da vida. Quer lição maior que essa? Por isso, és grande, és poeta, és único! Que eu possa sempre beber nas águas desta sua sabedoria. Te amo.

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