20:23ZÉ DA SILVA

A última medalha que ganhei foi como campeão de um concurso onde se escolheu a melhor caipirinha de vodca. Até hoje nunca coloquei na boca uma única gota de álcool. A coisa aconteceu num clube metido a besta, litoral, novos-ricos em profusão. Estava lá quase como penetra, convite feito e aceito, porque chance rara. Na hora do corta limão, coloca açúcar, espreme, derrama o líquido, quebra as pedras de gelo, mexe tudo, me perguntaram porque eu não experimentava. Respondi: “Não posso”. Sempre gostei de fazer. Aprendi com um mestre. Só olhando a técnica. Ele nunca mediu nada. Tinha o talento nato de quem ama o que faz. Acho que herdei isso do senhor meu pai. Se há algum segredo, sempre achei que era depois de o pilão socar o limão com o açúcar e se colocar uma uma dose da bebida, sempre lavando o pilão – aí uma nova socada. Nunca perguntei para o professor. Ele não responderia. Talvez seja isso. Talvez não. Quem bebe o resultado nunca reclamou – e faz tempo que não me oferecem mais o produto do meu trabalho. Ainda bem.

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