10:29Que Nossa Senhora da Luz do Pinhais tenha piedade de nós!

por Sergio Brandão

Depois de meses, só vendo pela tv, lá esta ele, no fundo do restaurante, com ar de quem quer privacidade, comendo como me disseram que come quando está em seu momento de ração. Chega a embrulhar o estômago. Vejo que se contém, afinal está em ambiente público. O restaurante não está cheio, mas se contém sempre que pode ou lembra que é um homem público.

Mesmo assim, vejo que às vezes  sofre umas recaídas e se perde na compostura. É traído nas garfadas, seguidas garfadas, às vezes comendo com a mão.  Troca rápido muitas vezes os talheres por um copo de caipirinha. Pelo manos é o que  me parece ser  a uma distância  pequena que tenho da mesa onde estão sentados ele a esposa, duas moças e um senhor muito conhecido e pouco aceito no cenário político. Em casa, num ambiente fechado, sei que ele comeria mais descontraidamente – a seu melhor estilo glutão, numa “Comilança”, igual ao filme de  Marco Ferreri com Marcello Mastroianni e Ugo Tognazzi.

A figura que está junto na esma mesa, pouco aceita no cenário político, foi famoso secretario da Fazenda em governo anterior ao de Requião. Este se alimenta mais comedidamente, com gestos mais nobres e finos. A esposa do glutão e as outras moças também comem sem que me embrulhem o estômago. Pelo menos em seus gestos não me incomodam.

Mas de onde estou, fico imaginando a conversa que estão tendo naquele almoço, provavelmente de negócios. Às vezes olham para os lados, se asseguram que estão sem escuta indesejada dos lados, mas mesmo assim baixam o tom da voz, se aproximam do ouvido dos seus ouvintes para dizer algo que certamente não pode sair dali, todas as vezes em tom de fofoca, quase como num sussurrar.

O glutão é o que mais fala. Também é dele a cena mais marcante. Foi quando com o copo de caipirinha na mão e de boca cheia, promove um chuveirinho de comida mastigada em seus ouvintes. Mesmo assim todos parecem felizes. As duas moças são as menos participativas e menos atingidas pelos farelos porque estão na outra ponta da mesa. Parecem estar ali para ouvir e comer. São lentas em seus gestos, na degustação do prato: elas sempre são as últimas a concordar e a sorrir. Balançam a cabeça e em seguida sorriem discretamente.

A esposa do glutão às vezes conversa ao pé do ouvido da figura pouco popular no cenário politico estadual, advogado famoso na cidade, com um escritório por onde circulam as grandes causas.

É meu aniversário. Estou lá com a família para comemorar mais um ano de vida. Me passa uma porção de coisas pela cabeça. Lembro quando o glutão foi meu chefe por alguns meses, sem que naquele período eu o tenha visto mais de uma vez. Emprego público, sabe como é, né?!?!? O tempo que mais estivemos próximos, foi quando eu o entrevistei para um programa de tv.

Fiquei pensando que é ele o cara que retorna à política depois de anos rejeitado pelo eleitor curitibano. Com várias citações em escândalos, principalmente quando esteve circulando por Brasília, também num período longínquo.

Logo, seus gestos nada discretos ao se alimentar, chamam novamente minha atenção. Naquele momento já sou  tomado pela cena de um novo filme, Mont Phytton. A cena do restaurante. É quase a mesma cena que tenho em minha frente. A obesidade mórbida, limpando o estômago para nova comilança. Faltou o vômito, que o acompanhou e quase põe a perder sua candidatura.

Daria um novo filme, se houvesse ali dentro do restaurante, um pobre, daqueles de dar náuseas, que quase faz a gente perder uma eleição. Daqueles que a gente tenta ajudar, coloca dentro do carro para atendimento num trabalho solidário, mas o estomago embrulha e somos impedidos a continuar o auxílio.

Que Nossa Senhora da Luz do Pinhais tenha piedade de nós!

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6 ideias sobre “Que Nossa Senhora da Luz do Pinhais tenha piedade de nós!

  1. Oráculo do Centro Vínico

    Sérgio Brandão, espero, pelo teu bem, que tenha saído antes que ele tivesse começado a comer guardanapos de papel; sim, por mais lauto que tenha sido o regabofe, ele é dado a mastigá-los, num espetáculo dantesco que supera tudo o que você possa ter assistido.

  2. Benefícios

    Será que quem pagou a conta foi a Viúva já?
    O glutão é o que colocou um balão no estômago e não resolveu?
    Ele é o que pendura contas no lle de France?
    É o que diz que seus lautos e glutos jantares e almoços são reuniões de trabalho e portanto a COHAPAR deveria pagar seu regabofe diário, não com o check refeição? Mas como verba de representação?

  3. jose maria

    se for verdade a cena, santo mio, estamos perdidos…bom pelo menos eu não votei no boca de comedor de polenta direto da colher de pau.

  4. Juca

    Deixei passar uns dias para ver se haveria outros comentários e testemunhos.
    Pois lá por volta de 1993, uma cena parecida, também causadora de enjoos aconteceu num restaurante antigo e famoso na especialidade de cozinha portuguesa.
    O mesmo personagem acompanhado de outras três pessoas, fez a mesma cena, praticou o mesmo “movimento comestível” e causou um espanto no pessoal que estava ao lado.
    Lá não tinha “farofa”, mas tinha “ovo e azeitonas”.
    Encurtando a história, os caroços das azeitonas eram literalmente cuspidos sobra a mesa, deles é claro. Mas, a cena foi de lembrança daqueles filmes de vikings.

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