10:05CADÁVERES INSEPULTOS

Rogério Distéfano

AS DUAS PESQUISAS do Datafolha de hoje, recomendo a atenção de vocês. Melhor dito: duas pesquisas para o mesmo resultado e a mesma conclusão. No jargão das pesquisas acabou no empate técnico, aquilo de três pontos acima, três abaixo – uma chega a 53%, outra a 51%. E a conclusão, a morte. De quem, de nós todos, você, eu, os duzentos milhões de brasileiros. Apenas numa delas a conclusão afeta a você e a mim individualmente. Na outra, fomos todos pro beleléu. Aliás, estamos lá, atestado de óbito lavrado em 7 de dezembro passado.

Uma e outra têm ligeira inflexão. A dos 53% trata do morto que insiste em parecer vivo, o governo Michel Temer, rejeitado naquela expressão, os aliados de hoje desertando para outro oásis da corrupção. A dos 51% diz sobre os vivos – você e eu – que um dia estaremos mortos, e o que fazer com nossos corpos. Cinquenta e um por cento, eu incluído, querem doá-lo para estudos médicos, escolas de medicina, de enfermagem ou para a pesquisa. Vejam bem, metade mais um dos brasileiros quer deixar o corpo conservado, ainda que em formol.

Tenho o testamento vital pronto, tabelionato do Taboão. Falta decidir a quem doar o corpo, PUC ou Universidade Positivo, UFPR ou outra pública qualquer, nem pensar, incluídos centros universitários que se intitulam universidades. Deixar o corpo para grevistas e petistas, com o trabalhão que tive para mantê-lo até razoável?, jamé! Vai para a PUC ou Positivo, onde não tem greve, os alunos aprendem porque pagam entre R$ 8 e 10 mil de mensalidade, valorizam o dinheiro, nada dessa ingratidão dos que cabulam aulas grátis pagas com o imposto do povo.

Doar o corpo, ninguém me convence do contrário, tem componentes mesclados de escatologia, o querer saber o que vem depois; de compromisso com o ambiente, de não poluir o solo com a putrefação; de altruísmo científico; e casos menores, de pão-durismo: o meu; conferi o preço de loco em cemitério, caixão, transporte, ou mesmo de cremação (quem sabe se as cinzas são realmente as do defunto?). Vivo apenas um impasse, e com o tabelião: quero incluir a cláusula que proíbe gracinhas com minhas pudendas. Eu me agarro a elas, ele se agarra à lei. 

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.