7:44MEDELLÍN EM BRASÍLIA

Rogério Distéfano

TRAGÉDIA DOS BRASILEIROS NA COLÔMBIA, 76 mortos, a equipe xodó toda morta. Em Medellín e em Chapecó o mesmo luto, tristeza igual. E no Brasil artificial, aquele que ignora o Brasil, o que acontecia nos mesmos dias em que brasileiros e colombianos choravam a morte dos poetas da bola de Santa Catarina? Acontecia outra tragédia. Diferente em um ponto apenas da tragédia de Medellín.

A de Medellín acontece uma vez a cada dez ou vinte anos – o Manchester City perdeu o time inteiro nos anos 1950 em queda do avião que o conduzia a Berlim. A do Brasil acontece todos os dias. O número de vítimas, ao contrário da que matou a Chapecoense, aumenta vegetativamente. Vegetativamente? Sim, a cada ano nascem mais mortos. Isso mesmo, não morrem mais vivos, nascem mais mortos.

Quem são esses mortos-vivos? Somos nós, você, eu, nossos filhos, amigos, inimigos, vizinhos. Temos nomes variados, aliás, dois: eleitores e contribuintes, sobrenome, brasileiro. Que tragédia é essa? Não há espaço e tempo para contar todas, o registro ultrapassa cem anos contínuos. Há espaço para contar uma só, que aconteceu durante o desastre de Medellin, continuou enquanto pranteávamos, nós e os colombianos, os bravos atletas da Chapecoense.

Essa tragédia, em que 200 milhões de brasileiros nascem e morrem em estado de vivos, aconteceu no Congresso Nacional. Dois pilotos, Renan Calheiros e Rodrigo Maia, comandaram a queda do avião que decolou e tenta aterrissar com segurança. Eles e sua tripulação – cafezinho servido pelos comissários Roberto Requião e sobrinho João Arruda – sobrevivem, e na eventual queda permanecerão vivos, saudáveis, ricos, cevados nos orçamentos.

A caixa preta descoberta em Medellín fará talvez mais seguros os voos de equipes esportivas. A caixa preta do Congresso, que todos conhecemos e queremos abrir para tornar segura a aeronave Brasil, Renan, Maia – mais comissários e tripulantes – querem enterrar de vez nos escombros da imoralidade política. Brasília não teve sequer o pudor de fingir luto e interromper o campeonato da imoralidade

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