16:29Dib Lutfi, adeus

por Inácio Araújo, na FSP

Fotógrafo Dib Lutfi deisou marcas mitológicas no cinema brasileiro 

Se a câmera na mão foi o recurso por excelência do cinema novo na busca de inovação estética e econômica, não é difícil entender a importância de Dib Lutfi, morto na tarde desta quarta (26). Diretor de fotografia premiado, foi como operador de câmera, no entanto, que deixou suas marcas mais profundas.

Marcas, talvez, mitológicas, já que pessoas que testemunharam seu trabalho chegam a dizer que sua segurança com a câmera na mão era tamanha que parecia estar deslizando num carrinho, mesmo quando em terreno adverso.

Pode haver exagero nesse tipo de observação? Em seu primeiro trabalho, em “Menino da Calça Branca” (1962), consta que Dib acompanhou a cambalhota do ator mirim do curta-metragem de Sérgio Ricardo.

Sérgio Ricardo, mais conhecido como compositor, era o irmão mais velho de Dib, sobre quem exerceu grande influência, de acordo com “Os Iluminados”, publicação da Academia Brasileira de Cinema dedicada aos diretores de fotografia. Dib trabalhou constantemente nos filmes de Sérgio, e nos mais conhecidos entre eles, “Juliana do Amor Perdido” (1970) e “A Noite do Espantalho” (1974), o trabalho de câmera é o que mais chamou a atenção no resultado final.

Em outras ocasiões, Dib serviu exclusivamente como operador de câmera, como no “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha. A importância de sua filmografia, no entanto, não se limita a isso. Como diretor de fotografia trabalhou com Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Arnaldo Jabor, entre os anos 1960 e 1970, seu período mais fértil.

Nessa época ganhou prêmios importantes, como o de melhor fotografia no Festival de Brasília de 1970, por “Os Deuses e os Mortos”, de Ruy Guerra. Nesse período, trabalhou regularmente com Carlos Diegues (“Os Herdeiros”, “Quando o Carnaval Chegar”, “Joana Francesa”), Nelson Pereira dos Santos (“Fome de Amor”, “Azyllo Muito Louco”, “Como Era Gostoso Meu Francês”).

Na fase final de sua carreira, no século 21, colaborou em particular com Domingos de Oliveira, para quem fez a fotografia de “Feminices” e “Carreiras”, mas destacou-se ainda pela fotografia de “500 Almas”, de Joel Pizzini, e pela câmera de “Harmada”, de Maurice Capovilla.

Num momento em que certa entronização da “boa técnica” parece ter relegado a câmera na mão a um papel secundário na cinematografia mais recente, a obra de Dib Lutfi é um documento importante sobre o único momento em que o cinema brasileiro destacou-se internacionalmente. Por suas ideias (na cabeça), é certo, mas que seriam irrealizáveis sem uma boa câmera na mão.

 

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