Os últimos vestígios do complexo de vira-lata que a seleção do Brasil talvez ainda carregasse na alma foram embora num lance que pouca gente lembra da Copa do Mundo de 1970. No jogo mais duro e emocionante da disputa, contra a Inglaterra, o ponta inglês Francis Lee chutou o rosto do goleiro Felix de forma maldosa numa daquelas bolas divididas onde a agressão fica camuflada. Pouco tempo depois o capitão Carlos Alberto Torres saiu de sua posição na lateral direita quando viu a oportunidade numa bola dividida com o atacante. A entrada foi tão dura, tipo atropelamento sem culpa, que o juiz fez de conta que não viu, porque sabia o que aquilo significava. Depois, Lee sumiu do jogo, como o mais relés pipoqueiro. O Brasil ganhou de 1 a 0, no gol histórico de Jairzinho,depois da jogada magistral de Tostão, que lançou a bola, sem ver, no pé do Rei Pelé. O toque para lado foi açucarado – caminho aberto para a conquista encerrada com gol quase parecido, o de Carlos Alberto, quarto contra a Itália na final – e o capitão beijou a taça, iniciando uma tradição, antes de erguê-la aos céus.