19:27Louco, eu?

Do blog Cabeça de Pedra

Toda sexta-feira era santa, mas só por causa do meu santo. Ele já tomou muita cachaça na vida, aprontou muitas, mas como tinha sido batizado, protegido ficou das maldades maiores – feitas ou recebidas. Entortou postes, andou pela faixa contínua no meio de rodovias de tráfego pesado, dormiu sobre túmulos, vomitou em pratos, procurou conhecidos em prédios ainda em construção. Um dia acordou em casa com a cama cercada de policiais. Reclamação dos vizinhos e porta aberta para o que der e vier. Não deu nada, mas a mania de presentear em meio a porres satisfez a guarnição. Nunca chamou Jesus de Genésio. Fazia sempre o contrário. De vez em quando lembrava da noite em que viu, do alto da estrada velha de Santos, as luzes da refinaria de Cubatão em meio à neblina e à poluição que faz criancinhas nascerem sem cérebro. Achou que era uma catedral. Anos depois, quando entrou numa, numa ruela de Paris, encontrou um bar, um dj e rock comendo solto para a mudez de santos e anjos pendurados nas paredes. Pediu água e pensou: “E eu é quem era louco…”

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