20:04ZÉ DA SILVA

Os olhares todos eu conheço. Mesmo sem saber, pedem ajuda. E sou eu quem está ali para pedir. Por que só ali, com eles, confusos, com buracos na alma, o peso do mundo nas costas, crentes que não há saída, encontro a paz em tormentos que teimam em voltar como pesadelos reais que se misturam aos que eles fazem emergir na fuga do sono. Sou um deles, serei sempre, e a voz que sai pela boca tem uma carga tão grande de otimismo, que não sei de onde vem, ou melhor, sei, porque ela traduz o que sempre esteve ali, até quando o terremoto abriu fendas e me engoliu por anos e anos na escuridão. Os olhos são de corpos cansados como os que encontro nas ruas, sob as marquises, ou nas janelas dos ônibus, cabeças recostadas nos vidros riscados. Como puxar os cabelos da própria alma e emergir para poder continuar? Ouço palavras, com as mesmas dúvidas – e elas me fazem ter certeza da força, essa, que existe, e faz milagres, os verdadeiros, da sobrevivência e da possibilidade do controle, mesmo no descontrole, porque tudo sentido e identificado como – bem ao contrário do quer foi e está sendo para aqueles com quem falo agora. Sobriedade. Serenidade. Alguém depois diz que chorou ao me ver pedir ajuda porque não sabia que podia fazê-lo – e sobre algo que apenas a aterrava e paralisava. Os olhos deles são os meus. Iluminam mesmo com as trevas temporárias. Sou feliz.

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