18:43Câmeras e microfones em silêncio

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Elon Garcia na revista TV Programas – Foto de Douglas Maravalhas

por Célio Heitor Guimarães

O Dia das Crianças, do descobrimento da América e de N. S. Aparecida nasceu anuviado neste ano da graça de 2016. Na véspera, o rádio, a televisão e a publicidade paranaenses perderam um de seus maiores, mais dedicados e mais competentes profissionais. Elon Garcia, o grande Elon Garcia, silenciara para sempre, aos 81 anos de idade. A notícia entristeceu seus amigos e admiradores, ainda que o soubéssemos adoentado.

Quando eu era criança e sonhava vir a ser locutor de rádio, tinha um ídolo: Elon Garcia. Era o meu exemplo, o padrão de profissional que eu gostaria de seguir um dia. Elon, ainda jovem, com pouco mais de 20 anos, compunha a equipe de locutores da então poderosa ZYM-5, Rádio Guairacá, “A Voz Nativa da Terra dos Pinheirais”.

Uns cinco anos depois, quando meu sonho tornou-se realidade e eu, para minha enorme surpresa, fui admitido no quadro de locutores comerciais da mesma “Voz Nativa”, Elon já não estava mais lá. Passara para a B-2; depois para a Colombo e, finalmente, para a Emissora Paranaense/Curitibana. Mas jamais deixei de admirá-lo como pessoa e como profissional, dono de poderosa voz, dicção perfeita, notável interpretação do texto, ótimo improviso e postura escorreita, dentro e fora dos estúdios.

Juntos somente viemos a trabalhar no início dos anos 60, quando foi inaugurada a Rádio Independência do Edifício ASA. Elon foi um dos fundadores do novo prefixo, assumindo, então,  o departamento comercial da emissora. Jair Brito, o diretor artístico, convocou-me para atuar como apresentador de programas e noticiarista.

Que bela dupla formaram Jair Brito e Elon Garcia! Foram anos de grandes realizações, que marcaram época na vida radiofônica curitibana. Antes disso, porém, Elon já andara fazendo arte na telinha da televisão.

Integrado ao “cast” de locutores da Rádio Emissora Paranaense, foi um dos pioneiros da TV Paranaense, Canal 12, de Nagibe Chede, desde as primeiras experimentações no Edifício Marisa, na Rua Alencar Guimarães. A imagem foi transmitida através do Canal 5 dos televisores e o som pela Rádio Curitibana.

E o rosto de Elon Garcia foi o primeiro a aparecer no vídeo do Paraná. Depois de inúmeras tentativas infrutíferas, eis que, de repente, os poucos curitibanos que dispunham de aparelhos televisores são surpreendidos com a presença em seu lares daquela figura simpática, com grandes óculos e um vistoso bigode escuro a decorar-lhe a face, e uma voz emocionada anunciando o advento da grande novidade tecnológica.

Recorda Renato Mazânek, que cuidava da aventura nos bastidores: “Postado impecavelmente para a apresentação daquela que seria a primeira transmissão da fase pré-experimental da TV do Paraná, lá estava Elon Garcia,grande figura e uma das melhores vozes do rádio paranaense. “Com a velha tarimba de sempre, explicou como estava se processando a instalação da emissora e anunciou a grande atração da noite, a cantora lírica Claudete Rufino”.

Assim, Elon Garcia se tornou o apresentador oficial da televisão paranaense, o mestre de cerimônias do Canal 12. E nessas condições conduziu também o show de inauguração oficial da emissora, em 29 de outubro de 1960.

A partir de 1971, Elon passou a dedicar-se de vez à propaganda. Fundou a sua Elon Garcia Publicidade e colocou as mãos inteiramente na massa. Criava os comerciais, redigia os textos, gravava as mensagens para o rádio e para a TV, e ainda cuidava do marketing e da mídia. Da sua primeira grande conta, os ouvintes e telespectadores hão de lembrar-se. Era das Lojas Disapel, rede varejista de eletrodomésticos que chegou a ter 266 filiais.

Outra marca que se consolidou na voz de Elon Garcia foi a das Lojas HM – Hermes Macedo S/A, outra cadeia que se espalhou pelo Brasil inteiro. Pelo trabalho desenvolvido com esmero e seriedade na área, Elon foi agraciado pela Câmara Municipal de Curitiba com o “Prêmio Colunista Dino Almeida”, na categoria “publicitário, radialista, ator-produtor”.

Curitibano, Elon da Silva Garcia nasceu 26 de fevereiro de 1935. Em 1952, foi aprovado em primeiro lugar no concurso para locutor da Rádio Guairacá. Tinha, então, 17 anos. E disputou o cargo com 65 outros concorrentes. Nunca mais se afastou do microfone. Era casado com Marly Isfer Garcia e pai de dois filhos: Elon César e Cristina Marly, ambos também integrados à publicidade.

Era também uma referência na Igreja Adventista de Curitiba e no Rotary Clube Curitiba Leste. Além de uma extraordinária criatura humana, a quem tanto devem a arte, a cultura e o empreendedorismo paranaenses.

Foi pioneiro da televisão do Paraná, o primeiro rosto a aparecer no vídeo. E a emissora que inaugurou, nos idos de 1960, limitou-se a anunciar o seu falecimento, no jornal da hora do almoço, em uma nota de três linhas…

Assim são as coisas. O que não impede que Elon siga em paz e tenha deixado em todos nós uma imensa saudade.

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4 ideias sobre “Câmeras e microfones em silêncio

  1. Ivan Schmidt

    Mais um na legião de admiradores e amigos de Elon Garcia, peço a devida vênia para subscrever a comovente página escrita por Célio Heitor Guimarães. Justíssima homenagem a quem tanto fez pela comunicação paranaense no rádio, televisão e publicidade. Figura humana notável, bondade e simpatia marcaram a vida desse homem cuja estatura ética e moral é um monumento que ficará para sempre na história paranaense. Sobre Elon Garcia, estou certo de que se poderia dizer uma palavra de fé: “Ele descansou nos braços do Senhor”…

  2. Célio Heitor Guimarães

    Bonito, Ivan. O Elon certamente agradeceria as suas palavras com um belo sorriso.

  3. Luiz Renato Ribas Silva

    Elon Garcia nos legou à posteridade um depoimento de sua vida e obra, cuja voz e semblante de pessoa refinada sempre admirados, pode ser conferido agora mesmo em http://www.memoriasparana.com.br Ao grande e admirável colunista Célio Guimarães, que viveu como amigo e profissional do rádio ao lado do Elon, meus parabéns pelo brilhante in memoriam.

  4. Antonio Dilson Pereira

    Invejo-o pela capacidade de dizer coisas importantes de maneira singela, deixando o coração falar. Eu gostaria de ter escrito esse texto. Só não o invejo mais porque, como você, tive o privilégio de ser amigo do Elon e de sua família.
    Ontem, no culto religioso na Igreja Adventista, pude imaginar a grandeza desse amigo que nos deixou e de outro amigo comum: José Wanderley Dias. Um pastou contou a história do concurso do qual o Elon participou para ser locutor de rádio. Na banca, o Wanderley. Na primeira fase, o candidato ficou entre os 15 melhores. Informado o resultado, foram informados que a segunda fase seria num sábado. O jovem Elon, com a dignidade com que sempre se portou, pediu a palavra e declinou de sua participação, informando que não poderia participar, ia se retirando do recinto, o Wanderley foi no seu encalço e perguntou qual a razão. Ele informou que era adventista e sua religião não permitida atividades não religiosas no sábado. O Wanderley voltou e informou que a segunda prova seria realizada na terça feira seguinte. Adivinhem: ele tirou o primeiro lugar.
    No culto, outro pastor disse mais ou menos o seguinte: ninguém vira santo porque morreu, é santo pela vida como viveu. Parabéns e um grande abraço. Dilson

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