ROGÉRIO DISTÉFANO

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MAX PROMETIA como goleiro, na ilusão do avô um futuro Manuel Neuer, o goleiro voador da seleção alemã. Afinal, Max também é alemão e como Neuer entrou aos cinco anos na escolinha de futebol. Max também promete ser mais alto que Neuer. Muitas vezes as coincidências acabam sendo meras semelhanças, ou vice-versa. Seja como for, objetivamente observado, Max é o máximo, daí o nome. Ele e Neuer.

A escolinha, assim como tantas na Alemanha, é uma coisa bem alemã, ou seja, organizada e eficiente. Fica no bairro onde vivem as crianças – onde também estão as escolas, os hospitais e os médicos. Não tem dinheiro nem subvenção do governo, é mantida pelos pais dos alunos. Dois campos de treino e dois treinadores, gentis e atenciosos como carcereiros de filme americano da II Guerra Mundial.

Max engolia três frangos entre quatro defesas, mas prometia. Até que chegaram os refugiados sírios e o governo pediu para alojá-los na escolinha de futebol. Pais e treinadores recusaram. Algo evocativo da superioridade teutônica. Menos a mãe de Max, alemã pós-muro de Berlim, filha de mãe pré-muro de Berlim. Resultado: Max foi tirado da escolinha, a mãe tomou as dores dos sírios, faltou pouco para encarar uma burca.

Logo a mãe do Max descobriu o sírio mais esperto desviando o dinheiro dado pelo governo alemão. Essa coisa não entra na cabeça luterana da mãe de Max. Ela encarnou o Lutero combatendo o papa que ganhava dinheiro vendendo perdão dos pecados. Caiu fora da caridade, porque corrupção na Alemanha é tão inconcebível quanto Porsche sem torque. Ela quase inventou um tribunal de Nuremberg para o sírio vigarista.

A mãe de Max, alemã, como os outros alemães, vive sob imperativos categóricos, como Kant antes dela. Tentou a rematrícula de Max na escolinha de futebol. Verboten, proibido, como dizem por lá. Então Max será nadador, a mãe decidiu. E músico, porque desde os visigodos os alemães nascem músicos. E o avô do Max gastou uma grana com as camisetas do Paraná Clube que todo Natal Max recebia.