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ROGÉRIO DISTÉFANO
“DESTA VEZ você comprou um jornal que presta” – o zapzap da mulher deixou-o confuso. O entusiasmo devia ser grande para ela perder tempo com a mensagem, que poderia fazer em pessoa. Assim, repentina, aumentava a confusão. Como não era coisa grave, somente elogio para jornal, deixou passar. Mas o assunto não lhe saía da cabeça. A mulher sempre preferiu livros a jornais. “É melhor formar-se que se informar”, seu argumento. Exerce agudo senso crítico em sites de notícias e na varredura do Facebook, chocada com a hemorragia de boatos e contradições. Lê o jornal local, hábito de província, aquilo de coluna social e obituário.
Coitada, pena com o jornal da província, minguado no noticiário e estreito no formato adotado de pouco para conter custos, incluída a dispensa de bons profissionais. Jornais de fora, nacionais, nunca foram suas afeições. Agora, por quê? Ele imagina que a queda de Dilma e a subida de Temer exige-lhe confrontar o noticiário fabricado, falso, tendencioso. Já em casa, ele curioso, ‘então, gostou dos jornalões?’. “Nós adoramos”, a resposta. ‘Nós, quem?’ Ela aponta para o chão, espalhado o caderno de automóveis, “a cachorrinha e eu. Esse caderno é fantástico, aliás, o jornal todo. No outro, ela sempre faz xixi para fora”.
Este cara é igual ao meu falecido sogro, assinava a Gazeta pra o cachorro mijar em cima, e não é que o sacana se viciou nisto. Agora o sacana do cachorro está dando o maior trabalho, o meu sogro morreu e os filhos disseram bye bye para a Gazeta, aonde o coitado vai mijar agora? Estou pensando na Folha.