por JamurJr.
Durante muitos anos a pesca na baía de Guaratuba era o programa favorito. Em companhia de bons amigos, todo sábado era uma nova aventura pelos 16 rios que desaguam nela. O peixe favorita era o robalo, que havia em abundância. Pescava-se com isca artificial, feita por um publicitário e pescador competente e criativo. A baía,que durante a semana permanecia calma e serena, com poucos barcos circulando, nos finais de semana recebia uma grande frota de com as tripulações à procura do melhor pesqueiro. A maioria dos pescadores, ao longo do tempo, se transformava de conhecidos a amigos – e isso era importante no mar, onde há sempre o perigo de algum acontecimento desagradável, como por exemplo um motor que falha ou um piloto que erra o canal e acaba encalhado. A semana mais apreciada para pescarias era a da Semana Santa, mais longa e com menos barcos disputando os pesqueiros.
Numa dessas semanas não teve pescaria. No Domingo de Páscoa, no final da tarde, em Curitiba, o telefone toca e no outro lado um dos pescadores falava afobado em busca de socorro.
– Escuta, companheiro, estou precisando de uns peixes. Você tem em sua casa?
– Não. Esta semana não fui pescar.
– Hiii, estou mal.
– Oque aconteceu?
-Pois, veja: foi um domingo de sol, estou pálido, não tenho peixe. Acontece que ao invés de ir a pescaria resolvi ficar no Quatro Bicos (prostíbulo na saída de Curitiba) e passei dois dias com uma puta. Agora a coisa está mal. Sem peixe e sem cheiro de peixe, minha mulher vai desconfiar. O único cheiro que tenho é de sabonete Eucalol e um perfume de cantora de bolero que puta usa. O que faço?
– Diga que que não tinha peixe…
– Ela não vai acreditar. Nunca voltei sem peixe.
-Então cante um bolero. Solamente Una Vez , talvez…
E desligou o telefone.