20:18ZÉ DA SILVA

O garoto era o cão com a bola nos pés. No campinho de areia da ilha, seu time era imbatível por causa dele. Corria feito uma locomotiva, driblava como ninguém, marcava gols de balaio. Um dia um bebum que conhecia gente do futebol profissional da capital apareceu por lá. Lhe apresentaram o craque. Chumbado, disse que o levaria para alguns testes. A mãe do menino chorou, mas ele foi. Aquela poderia ser a oportunidade para o futuro mais tranquilo e longe daquele lugar onde os jovens arrancavam todos os dentes para colocar dentadura e não sofrer dores. Ele foi, ficou na casa do bebum, que morava sozinho, foi apresentado, mas foi treinar só um dia, porque tinha de pegar ônibus e era um bicho perdido na selva de pedra. Enquanto seu protetor ia trabalhar, ele ficava vendo tv o dia inteiro, algo que nunca fizera na vida. Um dia tudo acabou. Ele voltou para a ilha. O bebum perguntou ao cartola a quem indicou o craque, se, pelo menos, ele levava jeito. O outro, macaco velho, disse que sim, mas o problema é que nunca tinha calçado uma chuteira e com aqueles pés e dedões duros de tanto jogar descalço, não tinha futuro.

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