9:45O custo da limonada

…. Como sempre acontece no esporte, alguém faz muito dinheiro com isso. O modelo é detido por meia dúzia de empresas. A uma sede olímpica resta seguir o que determinam, pagar a conta e tirar proveito do serviço prestado. Atenas-04 quebrou o país, Pequim-08 e Londres-12 transformaram o limão em limonada. Queremos acreditar que o Rio está no segundo grupo. Estará?

A limonada carioca vai começar a amargar, é óbvio, quando o custo da brincadeira chegar. Quando associarmos construtoras e políticos envolvidos à Lava Jato. Quando a revolução viária e imobiliária de Eduardo Paes fatigar. Quando percebermos que os milhares que falaram inglês nos Jogos já sabiam a língua. Quando admitirmos que a Olimpíada falhou em serviços, exatamente a nossa parte. Quando entendermos que o melhor deveria estar começando agora, e não virá.

de José Henrique Mariante, na Folha de S.Paulo

O Rio continua lindo, o mundo dirá após os Jogos Olímpicos

Países que recebem os Jogos têm um pequeno incremento no PIB no ano do evento e voltam ao normal depois. Sabemos qual é o normal do Rio e do Brasil.

A questão a responder é se queremos continuar assim, apenas lindos.

Olimpíada é um sucesso? A maioria dirá que sim. O mundo será condescendente com o Rio, assim como já foi com o Brasil na Copa. Ninguém esperava uma Olimpíada melhor, esperava, na verdade, coisa bem pior.

Atletas, jornalistas e turistas vieram preparados para a guerra, mas só encontraram gente sorridente e perdida nas traduções, placas que sinalizam errado, ônibus que atrasam, filas para comprar comida. Confusão de sempre, em proporções olímpicas.

O medo do terrorismo ficou na Europa, a zika preferiu o verão de Miami, o Rio acabou em festa.

Indígenas flutuaremos então entre o orgulho de ter passado de ano, quem se importa se com o empurrão do professor, e a cômoda constatação de que o país é assim e sempre será. Cansamos do complexo de vira-latas, estamos na fase da afirmação, da própria incompetência ou da competência alheia que pagamos caro para usufruir por duas semanas.

O grande feito do Rio foi provar que a organização olímpica é capaz de superar a desorganização local. Na véspera dos Jogos, John Coates, cartola do Comitê Olímpico Internacional, declarou que estes seriam os Jogos “mais difíceis”. Duas semanas depois, Thomas Bach, presidente do comitê, trocou o adjetivo, e os Jogos se tornaram os “mais icônicos”.

Coates não errou, devem ter sido Jogos difíceis, e isso vai aparecer no futuro quando se contar o que não foi contado. Sua preocupação não era sublinhar obstáculos locais, mas evidenciar que o modelo que ajudou a criar é capaz de superá-los. O australiano foi o homem forte de Sydney-2000, que propôs uma tecnologia de execução e controle de projetos olímpicos que empurrou o evento para outro patamar. Simplesmente por ser replicável.

Como sempre acontece no esporte, alguém faz muito dinheiro com isso. O modelo é detido por meia dúzia de empresas. A uma sede olímpica resta seguir o que determinam, pagar a conta e tirar proveito do serviço prestado. Atenas-04 quebrou o país, Pequim-08 e Londres-12 transformaram o limão em limonada. Queremos acreditar que o Rio está no segundo grupo. Estará?

A limonada carioca vai começar a amargar, é óbvio, quando o custo da brincadeira chegar. Quando associarmos construtoras e políticos envolvidos à Lava Jato. Quando a revolução viária e imobiliária de Eduardo Paes fatigar. Quando percebermos que os milhares que falaram inglês nos Jogos já sabiam a língua. Quando admitirmos que a Olimpíada falhou em serviços, exatamente a nossa parte. Quando entendermos que o melhor deveria estar começando agora, e não virá.

Países que recebem os Jogos têm um pequeno incremento no PIB no ano do evento e voltam ao normal depois. Sabemos qual é o normal do Rio e do Brasil.

A questão a responder é se queremos continuar assim, apenas lindos.

VEJA O QUE FUNCIONOU E NÃO NOS JOGOS

CUSTOS

FOI MAL – A conta total de quase R$ 40 bilhões relacionada à Olimpíadaaumentou em pelo menos R$ 250 milhões durante o próprio evento e promete crescer ainda mais. Apesar disso, tanto o Comitê Organizador quanto o Comitê Olímpico Internacional insistem na tese de que o orçamento dos Jogos não estourou e não contou com dinheiro público.INSTALAÇÕES

FOI BEM – A qualidade exigida pelas diversas federações foi atingida no geral, exceção feita à água de duas piscinas que ficaram verde por dias. No restante das arenas, problemas menores e rapidamente resolvidos, como buracos na quadra de handebol. Decoração olímpica chegou atrasada à cidade e gerou a impressão de mal acabada em diversos locais.

 

OPERAÇÃO

FOI MAL – A operação dos Jogos deixou a desejar em vários aspectos relacionados a serviços: filas nas revistas (resolvidas às pressas, sem padrão e com sensação de “vista grossa”), transporte de atletas e imprensa, voluntários perdidos, falta generalizada de informação, sinalização errada ou inexistente.
FOI BEM – Às custas de uma militarização ostensiva, a sensação foi de segurança nos ambientes olímpicos. Em Deodoro, duas balas foram achadas no chão e umônibus de imprensa foi atingido por pedras, segundo a organização, ou tiros, segundo passageiros. Vila Olímpica conviveu com dezenas de furtos. Várias delegações desestimularam saídas de seus integrantes da Vila.SEGURANÇA
FOI MAL – Jogos começaram com muitas arquibancadas vazias, apesar da forte procura por ingressos. Revenda de bilhetes, ingressos não usados por patrocinadores e cambismo, problemas crônicos em todas as Olimpíadas, não tiveram solução no Rio. Um membro do Comitê Olímpico Internacional foi preso acusado de repassar ingressos a empresa não autorizada.INGRESSOS

O irlandês Patrick Hickey, 71, foi preso acusado de repassar ingressosJack Guez/AFP

ALIMENTAÇÃO

FOI MAL – Filas, pessoal inexperiente, estoques mal dimensionados, cardápio restrito, de qualidade baixa e nada saudável, preços nas alturas, garrafas sem tampinha, vendas por cartão de uma única bandeira, exigência de patrocinador.
FOI BEM – A grande preocupação do sistema de transporte público, a conexão via metrô e ônibus entre a zona sul e a Barra, funcionou muito bem. As faixas segregadas para a família olímpica foram respeitadas, mas causaram muitos engarrafamentos por toda a cidade.TRANSPORTE
FOI BEM – Apesar das falhas de serviço, o clima nos parques e arquibancadas foi de alegria, animação e tranquilidade, dentro e fora das arenas. Clima de torcida de futebol marcou o evento, para o bem (Djokovic x Del Potro) e para o mal (vaias a Renaud Lavviene).AMBIENTE

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