7:02CORRELIGIO-COXINHONÁRIOS OPORTUNISTAS

babanegra

Rogério Distéfano

CONFESSO, embaraçado: sou coxinha. Mas com senso crítico e alguma compostura consigo atinar, não sem dificuldade, quando os mortadelas estão certos.  De algum tempo a esta parte discordo de meus correligio-coxinhonários. A começar por esses das babás negras com uniformes brancos, que constrangidas conduzem coxinhas babões às manifestações anti Dilma – que, tirando as más companhias, a burrice e a grossura, é uma bela senhora. Neste momento e nesta particular cidade – e onde mais poderia ser? – os coxinhas agem na decoração.

Antes, chamavam-se decoradores. Depois, com universidade e diploma, dão-se o título de desáineres ou arquitetos de interiores. Estou de má vontade com os decoradores de Curitiba que decidiram, nesse paroxismo coxístico e pequeno-burguês, homenagear as celebridades maiores da Operação Lava Jato. Primeiro, o juiz Sérgio Moro, brindado com nome de biblioteca. Aquilo de biblioteca não serve para quaisquer dos usos de uma biblioteca: não convida à leitura, não atrai para a soneca, nem para o trago doméstico e furtivo.

Agora, os decoradores saem-se com o loft Deltan Dall’Agnol, o Robespierre da Lava Jato. Imaginam que o jovem e fero procurador é solteiro como o fero Robespierre ou casado pegador como o corrupto Danton? Mas loft, nestas cercanias, remete a solteiro pegador e casado mal resolvido: ambiente pequeno, intimista, peça única, centrada no dormitório. Solteiro, casado, dormitório, o que lembram? A garçonnière de nossos avós, a kitchenette de nossos pais, onde recebiam parceiros em comércio amoroso (na desinência de ‘troca’).

Nossos desáineres não sacam que loft pegaria mal no procurador que segue os Mandamentos com o mesmo rigor com que segue o do Código Penal. Nem fizeram o dever de casa: Dall’Agnol é solteiro? Fosse, e assim disponível às ofertas da sedução, estaria o jovem e bem apanhado procurador exposto ao encanto das sereias plantadas em seu aquário por empreiteiros e tesoureiros. Enfim, o nome do loft é oportunismo coxinha, nada mais, nada menos. Fosse, como seria em tempos menos mortadelas, batizado de Marcelo Odebrecht daria no mesmo.

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