10:27A SALSICHA DE TEMER

salsicha

Rogério Distéfano

MARCELO CAETANO, secretário da Previdência Social de Michel Temer, declara em entrevista à Folha que se não forem feitos ajustes ao sistema teremos aumento de impostos. A mesma ladainha do envelhecimento da população que causa sobrecarga no custeio. Para evitar aumento de impostos só tirando dinheiro da educação e da saúde – o que, não diz ele, também soluciona o déficit da previdência, pois as pessoas passam a morrer mais cedo. Não dá para acreditar em tecnocrata, por mais acreditado que seja.

Antes de falar de previdência, temos que discutir a transparência: quais os gastos gerais do Estado, todos e de todos os poderes; quanto se gasta na previdência complementar dos poderes; onde se pode cortar, ou pelo menos retardar o acréscimo de despesas. Nada disso é tratado ou examinado. O que o secretário não diz, porque nunca lhe será perguntado, é que os ajustes à Previdência serão feitos em detrimento de seus beneficiários, que não conhecem o mecanismo e as forças por trás das decisões do Estado.

Funcionam assim: não se toca nos privilégios e situações estabelecidas nas corporações com poder no Estado, a saber, parlamentares, magistrados, eleitos para o Executivo e todos os assemelhados e dependentes. O Legislativo adere às propostas do Executivo que pesam sobre os segurados da Previdência, não sem antes manter seus privilégios – e os dos assemelhados acima – e de lambujem levar alguma (ou muita) vantagem na negociação.

Já se tornou lugar comum, efeito retórico, lembrar a frase clássica do chanceler Bismarck, do II Reich alemão: “Se um dia o povo souber como são feitas as leis e as salsichas, ele perderá o sono”. Os alemães de hoje aprenderam, precisaram do III Reich e do Muro de Berlim para chegar lá. Nós brasileiros ainda comemos salsichas sem saber o que tem dentro e elegemos quem faz as leis – mesmo sabendo o quê tem dentro deles.

Quase me passava: Marcelo Caetano, Marcelo Caetano. Ora se o gajo não é tocaio do presidente de Portugal, que fugiu ao Brasil durante a Revolução dos Cravos! Chegou ao posto como grande tecnocrata do salazarismo. Queria modernizar a ditadura.

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Uma ideia sobre “A SALSICHA DE TEMER

  1. Fernando Carvalho

    E AINDA CHAMAM ESSA GENTE DE “O QUE HÁ DE MELHOR”
    Perfeito, Rogério.
    Os privilegiados, com seus privilégios legalizados como cláusulas pétreas, aceitam (e sugerem; e aprovam…) mexer em tudo, desde que não se mexa com os seus privilégios; que compõem um conjunto de “direitos adquiridos” mais que óbvios. Ululantemente óbvios e sem qualquer possibilidade de escrutínio ou revisão, pois essa gente se comporta como parte de uma aristocracia “eleita” para uma espécie de Olimpo, onde o corrupto é sempre o outro. E que se esmera em comprovar e ampliar a realidade, cada vez mais desnuda, de que – neles – todos os pecados podem ser reduzidos a um só: o roubo. Esteja ele implícito ou explícito, seja material ou espiritual, escrachado ou enganação, de valores monetários ou de caráter e reputações; mas sempre, e tão-somente, roubo…
    E os intelectuais de esquerda, em sua ignorância (inclusive semântica), chamam essa gente de “tudo o que não são”, chamam-nos (suprema ironia) de “elite”, não atentando para todo o significado da palavra e para as implicações e consequências decorrentes de não saber (nem ao menos) “dar nomes aos bois”… Uns enganam; e outros se enganam…

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