16:08SAUDADES DE 1790

As delações premiadas reduziram em 326 anos as penas dos condenados da Lava Jato. Deduzidos 326 anos destes 2016 anos do nascimento de Jesus Cristo estaríamos em 1790.  Sabem o que acontecia em 1790? Passavam-se dois anos da Inconfidência Mineira, que deu no que não deu: enquanto os EUA faziam sua independência começávamos a engatinhar na rota do atraso. Fiz o cálculo arbitrário, imaginoso, adjutório à reflexão. O Brasil, disse-o bem – ou repetiu bem, o que dá na mesma – o governador Beto Richa, decidiu punir o pecado e perdoar o pecador. Lato senso, pune-se a corrupção e perdoa-se o corrupto. Não é defeito do sistema, é a índole do povo.

Os brasileiros somos complacentes a caminho da conivência. À nossa peculiar e tropical maneira nos aproximamos da cultura política dos EUA; lá os políticos apanhados em falta vão a público pedir perdão. Em seguida abandonam a política. Aqui como sempre ficamos na metade do caminho: basta o perdão. Após os anos de purga, no purgatório da inelegibilidade, os políticos voltam ao aprisco da corrupção, que ninguém é de ferro, pois lançam-se ao rio de piranhas alguns Cunhas e escapam outros, cujos nomes não refiro porque os processos de calúnia e difamação pegam nesta terra, pois somos todos honrados.  

A delação premiada tem funcionado como as penitências do cristianismo, católico e protestante – no primeiro, os padre-nossos e as ave-marias, no segundo, a expiação pública. Mas a delação tem sido seletiva, porque não podemos deixar de ser brasileiros. Ou seja, não há estímulo para a delação nos – outros – crimes comuns, esses de furto, roubo, estelionato. Os acusados não mofam em extensa prisão preventiva para entregar os cúmplices, como os pobres milionários da Lava Jato. No geral não têm o que devolver, como os empreiteiros. Mais: o etos criminoso manda matar os delatores. E os delatados na Lava Jato não podem se dar ao luxo de matar os delatores.

(ROGÉRIO DISTÉFANO)

 

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