11:51Os irresponsáveis da pátria

por Célio Heitor Guimarães

Acho que o ato mais desastrado e arriscado desses primeiros dias do vacilante governo Temer foi o adjutório aos governos estaduais. Não sou economista, nada entendo de finanças – a não ser das próprias e com grande sacrifício –, desprezo esse mundo de números, cálculos, aritmética e complicadas operações, ainda que tenha alguns bons e estimados amigos que tiram tudo isso de letra. Mas vejo e penso. Sou um velho brasileiro que ainda se informa e raciocina. E isso, às vezes, também é um pesado fardo.

Na segunda-feira, a União do nosso Michel selou um acordo com os Estados de Francisco Dornelles, Fernando Pimentel, Beto Richa, José Ivo Sartori, Geraldo Alckmin e demais regentes estaduais, todos, de uma forma ou outra, com as calças nas mãos (as únicas e honrosas exceções são o eficiente Paulo Hartung, do Espírito Santo, e o prevenido Marconi Pirillo, de Goiás, que cumpriram o dever de casa), que tiveram as suas dívidas estendidas por 20 anos.

As prestações só voltarão a ser quitadas a partir de janeiro de 2017. Daí, o desconto concedido de 100% será gradativamente reduzido em 5,55 pontos percentuais por mês, até junho de 2018. E o impacto nas contas do Tesouro Nacional será de R$ 50 bilhões. Suportado por quem? Por quem, generoso Michel? Pela União? União coisa nenhuma, porque “a viúva” não tem dinheiro, mas apenas um déficit que se anuncia de R$ 170,5 bilhões! A benesse será suportada, como de praxe, por nosotros, o vulgo, a plebe, o gentio, a patuleia desamparada, que carrega o Brasil nos ombros.

O venerável Dornelles, sobrinho de Tancredo Neves, em exercício no Rio de Janeiro, levou mais R$ 2,9 bilhões por fora, para assegurar a segurança da Cidade Maravilhosa durante as Olimpíadas de agosto.

Com todo o respeito, essa horda de maus administradores, incompetentes e irresponsáveis, que, na ânsia de se reelegerem, gastaram o que não tinham, em regra em obras e realizações suntuosas e desnecessárias, não merecem ajuda e sim cadeia. Estão precisando com urgência de uma Lava-Jato e de um juiz como o nosso Sérgio Moro.

No início de 2015, em nome da “governabilidade”, a afastada Dilma Rousseff já aliviara a dívida dos senhores governadores, concedendo-lhes descontos e alongando prazos. O que fizeram s. exªs. com o alívio? Novas dívidas.

No entanto, não são apenas esses perdulários levianos e insensatos que quebraram as unidades federativas do país que estão a merecer um ajuste de contas com as autoridades policiais. Os cidadãos Luiz Inácio Lula da Silva e Carlos Arthur Nuzman, este presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, também. E Lula não pelos malfeitos na Petrobrás e pelos mimos recebidos das empreiteiras enquadradas pelo juiz Sérgio Moro, mas por haver inventado, incentivado e lutado bravamente para trazer a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos internacionais para o Brasil.

Qualquer pessoa de bom senso, medianamente informada, sabia e continua sabendo que não tínhamos nenhuma condição de sediar aqui uma Copa do Mundo de Futebol, tal qual o Rio de Janeiro – falido, poluído, com dengue/zika e bandidos matando gente nas ruas – não tem para realizar as Olimpíadas. Mas Lula, Nuzman, o então governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes queriam porque queriam. E jogaram todas as suas fixas (e mais algum por fora) na empreitada. Conseguiram. E agora? Por enquanto, ficamos com um monte de obras mal feitas, outras pela metade e outras mais que nem foram começadas. Além de uma dezena de elefantes brancos, as chamadas “Arenas padrão Fifa”, a maioria abandonada em seus Estados sem nenhuma utilidade (e ainda por pagar).

Quem não leu, deve ler o texto de Elio Gaspari, reproduzido ontem neste espaço do Zé Beto. Referindo-se especificamente ao Estado do Rio de Janeiro, cravou:

“Quando um governo vive de eventos, uma crise jamais começa com a paralisação de alguma grande obra ou de um projeto da vitrine. A conta vai sempre para os serviços básicos oferecidos ao andar de baixo. A falência do Rio foi exposta no final de 2015 com o colapso da rede de saúde. Havia fornecedores que não recebiam há meses. Na ocasião o governador Luiz Fernando Pezão ensinou: ‘O Estado não fabrica recursos’. Consome-os, mas deixa pra lá”.

E assim arrematou:

“O próximo evento desse estilo espetacular de administração será a Olimpíada. Como explicou o secretário Moreira Franco, ex-governador do Rio e fundador do PMDB, ‘não podemos pagar um mico internacional’. Disse isso no dia em que o governo pagou um orangotango nacional”.

É isso aí, considerado Michel. Vê lá onde você anda amarrando o seu burrico provisório.

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2 ideias sobre “Os irresponsáveis da pátria

  1. zangado

    É o que as pessoas honestas e de bem desse país devem estar pensando desse “orangotango”. A medida de ajuda (contingencial, certo) deveria vir acompanhada da apuração ou da responsabilização dos descalabros orçamentários do Estado. Será que o governador interino Dorneles não a encontrou ainda? Enquanto essa moeda, essa bufunfa pública, for vista só com a face da coroa e não a contraparte da cara (dos contribuintes) que estão pagando uma conta que não lhes pertence, nada vai mudar. Responsabilização dos governantes relapsos e mentirosos (há vários e até muito perto de nós) é medida de saneamento básico das finanças estaduais. Não há outra.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Agora são as prefeituras que estão pleiteando o adjutório federal. E nós, aqui do subsolo?! Quando chegará a nossa vez?

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