21:01ZÉ DA SILVA

Eu poderia ter disputado uma olimpíada. Pode ser um pouco exagerado, mas o caminho começou a ser traçado cedo, antes de o voleibol do nosso país se tornar essa potência mundial. Era o tempo em que os japoneses dominavam este esporte no mundo. Pobre, por causa de um professor me descobri apto a esta modalidade. Alto, quase 1,90m, adolescente, me destaquei no time da sala de aula, fui para a seleção do colégio e era o principal “cortador” da equipe. Um colega me indicou para treinar num clube, que disputava o campeonato estadual. Os treinos eram à noite, eu precisava pegar dois ônibus para ir até o bairro nobre e dois para voltar para casa nos confins do judas. Fiquei algumas semanas batendo bola. Me inscreveram na federação estadual, mas tive de desistir, mesmo porque chegava muito tarde no casebre e levantava cedo demais para ir ao colégio, também distante dois ônibus. Agora estou aqui, com as pernas entrevadas e esperando vaga para me tratar em algum lugar deste Rio de Janeiro que será palco das Olimpíadas. Quanta honra, não? O Brasil vai se mostrar grande nas transmissões de tevê para o mundo e, em volta, o povo morrendo sem ser atendido nos hospitais e centros de saúde falidos. O meu problema não é tão sério, mas dói o coração ver tudo isso acontecer como se fosse a coisa mais normal. No meu tempo…

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