17:15Em lugar da Brahma, uma universidade de artes

Da coluna do jornalista Aroldo Murá, no ICNews

Quando, há quatro meses, o jornalista Paulino Viapiana deixou a Secretaria de Comunicação Social do Paraná, sendo substituído por Márcio Villela (ex-dirigente da ABERT), ele não sabia exatamente que nova posição o governador José Richa iria lhe destinar. Sabia, apenas, que a missão iria exigir-lhe habilidades e conhecimentos na área da política cultural, na qual Viapiana tornou-se expert desde que presidiu a Fundação Cultural de Curitiba e, depois, tornou-se secretário de Estado da Cultura, por 11 anos nas duas posições.

“Hoje Paulino deve estar avaliando: foi deslocado para uma função tão ou mais espinhosa do que a Comunicação Social”, diz o escritor e jornalista Márcio Renato dos Santos, um dos bons “meio de campo” da área cultural curitibana. Seu trabalho é fator de aglutinação, particularmente no meio literário.

Márcio tem razão, o desafio de Paulino é enorme: assessor especial do governador, ele tem agora a tarefa de dar início à viabilização do Centro Escola Superior de Artes do Paraná, ambiciosa proposta do Governo Richa para os próximos 2,5 anos de sua administração. Passa a ser o coordenador do Projeto, que nos próximos dois meses deverá ser lançado oficialmente.

Isso embora a fase de projeto já esteja andando. Os recursos para este ano são de R$ 30 milhões, apenas ponto de partida para um montante que, acredito, poderá chegar à centena de R$ milhões.

Viapiana tem pela frente uma enorme dádiva material, hoje propriedade do Governo do Paraná, a velha e desativada fábrica da Brahma (não é tombada), no bairro do Rebouças. Ali deverá fazer nascer o Centro. São pelo menos 32 mil metros quadrados de área, em dois quarteirões, compreendendo trechos da Getúlio Vargas, Iguaçu, João Negrão e Rockfeller.

A edificação está muito deteriorada. Embora a conservação de certas marcas da fábrica esteja garantida, pois são ícones daquela área outrora industrial. A demolição do todo do velho complexo não está descartada. Na verdade, é o mais provável.

UNIVERSIDADE DAS ARTES

O Centro deverá, no futuro, transformar-se em Universidade das Artes do Paraná, com a corretíssima proposta de fusão de duas instituições de ensino artístico de nível superior existentes em Curitiba, a FAP e a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP).

As duas “sobrevivem” em meio a muitas e históricas dificuldades (especialmente pela provisoriedade de suas instalações) e as limitações de espaço, sem contar a contramão, por exemplo, do Setor de Cinema da FAP (instalado no Parque Newton Freire-Maia, de difícil acesso, em Pinhais).

Note-se que nos últimos 10 anos as duas escolas de arte estaduais deambularam por diversos endereços.

A EMBAP, como parte de sua “tragédia” funciona em três endereços diferentes em Curitiba. Isso sem esquecer que ela e FAAP concorrem entre si, em algumas áreas, despendendo recursos e talentos que poderiam agir unidos.

TREM DA HISTÓRIA

É inadmissível à luz do bom senso, mas há opositores ao Projeto.

Alguns opõem-se especialmente à ideia de aglutinação das duas instituições. Uma das manifestações recorrentes, especialmente entre poucos professores mais antigos, é a de que “perderemos a autonomia que caracteriza nossa escola”.

Não haverá perda, mas reforço da autonomia Acadêmica, diante do ganho futuro que significará uma universidade exclusivamente voltada à criação artística sob a regência acadêmica.

Acho que o contrário poderá ocorrer, depois de ouvidos os notáveis que o Governo quer ouvir sobre o Centro e seu futuro desdobramento em universidade de artes. Afinal, não é preciso ser tão expert em educação para entender que a comunidade universitária é quem lucrará com a simbiose. E todos os docentes envolvidos, e com alma na educação artística, devem ter posição semelhante.

Sugiro que se ouça a opinião de notáveis que passaram, por exemplo, pela EMBAP, gente como Fernando Velloso, Fernando Calderari, Juarez Machado, João Osorio Brzezinski, Cleto de Assis, Marisa Ferraro Sampaio… E não esquecer de gente que contribuiu fortemente, em diversos governos, para que a formação artístico-cultural se tornasse importante no Paraná. No caso, cito Ennio Marques Ferreira, Otavio Ferreira do Amaral, Hélio Puglielli, Mônica Rischbieter, Eduardo Rocha Virmond, Ernani Buchmann, Henriqueta Penido Garcez Duarte, Cassiana Lícia de Lacerda…

Muito mais do que um projeto material, o do Centro – e futura Universidade das Artes – gerará incalculáveis dividendos espirituais para todos. Por exemplo, os estudantes terão no espaço tudo com que poderiam sonhar em uma instituição voltada a estimular poder criativo e a sensibilidade artística: auditórios para exibição de seus talentos, seus concertos, salas de cinema (para que mostrem suas produções, via escola de cinema), amplos espaços para exibição de artes visuais, bibliotecas e laboratórios de toda sorte para a execução de trabalhos – até fornos para artes plásticas e ateliês de gravura e escultura, além de acesso ao que de mais moderno existe em equipamento para produção digital de artes, camarins, ateliês de restauro de obras de arte, etc.

Quem adotar visão menor, de suposta posse “ad aeternum” de títulos acadêmicos e espaços, desprezando a oportunidade do Centro de Artes, estará perdendo o trem da história.

Para Paulino, tão importante quando olhar os benefícios para o mundo universitário é perceber quanto o Centro Escola de Artes vai significar para a cidade, pois amplas oportunidades de acesso a bens culturais serão ofertadas ao público. Cinema, teatro, concertos, dentre outros. E preços acessíveis, quando não gratuitos.

E como decorrência do futuro Centro de Artes/Universidade, a área hoje degrada do entorno da ex-fábrica da Brahma será beneficiada por um supro de vida nova. Revitalização urbana, no trecho, será um adicional de todo louvável do empreendimento. Pelo que a cidade de Curitiba agradecerá.

– O mais importante é que professores e alunos já estão percebendo: o Centro Superior de Artes do Paraná ofertará aquilo que até agora teve expressão em espaços acanhados: haverá lugares para que os alunos se exponham e às suas artes, com dança, música, cinema, teatro, artes visuais. Isso será o melhor ‘preview’ da afirmação profissional de cada um, argumenta Paulino Viapiana.

 

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