22:06ZÉ DA SILVA

As flores mais lindas são em preto e branco e cinza. Guardei-as na memória e numa ampliação que eu mesmo fiz no quarto escuro que depois ficou vermelho. Não sei que idade tinha ao clicar com a câmera emprestada, mas sei que não tinha namorada. Paixões, ah, desde a infância, a começara pela figura da professora que nunca sorria e era feia. Depois veio a freira, só com o rosto à mostra no hábito – e as colegas de colégio, uma escolhida a cada ano, sempre a atormentar. Mas como poderia falar se o máximo que conseguia era olhar e sofrer calado? As flores encimavam caules longos e tenros que balançavam ao vento. Eram miúdas e formavam uma floresta amazônica na minha perspectiva de olhar, deitado na relva, sozinho naquele lugar. Era um cantinho que gostava de ir e ficar porque nunca aparecia gente meio da tarde de uma semana qualquer. Naquele dia vi que eram mesmo preto e branco e cinza. Elas me acompanham para sempre.

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