19:52ZÉ DA SILVA

Não estou sozinho. No silêncio do escritório posso até ouvir as vozes deles. São centenas, talvez milhares de personagens. Aguardam o momento certo de conversar comigo. Eu aguardo o momento certo de ouvi-los. Tudo depende do meu estado de espírito. Às vezes olho e algumas palavras me levam a eles. Normalmente acerto – e continuo em silêncio ouvindo o que têm para contar. Sim, foram criados – e o que me leva a eles é o que aprendi sobre seus “donos”, aqueles que foram tomados de assalto pela imaginação e se deixaram levar por estes que querem falar comigo. Comecei a ler tarde, mas nunca é tarde. Fiquei até comigo dos russos, porque, diziam, são os mestres eternos neste dom divino de fazer com que milhões de pessoas ouçam o que ele tem a dizer através de seus seres inventados – ou vice-versa. Enquanto escrevo aqui eles estão ali na grande estante de madeira, talvez cochichando porque sabem que falo sobre eles. Ah, os livros com tantas experiências de vida… O que nos une, pode ser, é o silêncio. Deve ser por isso que alimentam a alma de quem escreve e de quem lê.

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