14:36Banheiros uni ou trans

por ROGÉRIO DISTÉFANO

CHEGOU À CAMPANHA presidencial e arranha o balcão de protocolo da Suprema Corte dos EUA a questão dos banheiros para transexuais: têm os próprios ou usam masculinos e femininos, conforme o, digamos assim, sexo ou gênero de origem? Como cada Estado decide livremente, dada a grande esfera de autonomia, a disputa acabará sendo federal e definida pela Suprema Corte, que deverá localizar uma cláusula na constituição para a palavra final. Coisa difícil, primeiro porque a constituição é sucinta, escrita em 1787 e atualizada por emendas que não tratam de banheiros e muito menos de transexualidade.

A Europa, não por ser Europa mas por ser antiga, avançou. Na maioria de seus países aboliu a distinção de sexo nos banheiros públicos: todos vão no mesmo, unissex. Não fiscalizam sequer a descarga. No Brasil, para fazer lei sobre banheiros, o Congresso teria que pacificar a bancada evangélica, moldada no mesmo barro puritano e reprimido dos norte-americanos. Os evangélicos, em regra, repudiam a mudança de sexo e a homossexualidade. Pelo menos avançamos em questões como o nome social dos transexuais e seus direitos civis e políticos. Assembleias legislativas, Senado e Câmara ainda não têm eleitos transexuais.

O Brasil terá que buscar seu caminho quando o problema surgir por aqui, o que será inevitável. Tenho refletido sobre o assunto e penso que a solução está nos atuais banheiros públicos, bem à mão, onde existe um caldo (ops) de cultura já avançado. Chamo a atenção do leitor para os banheiros masculinos, de bares, academias, saunas, onde encontram-se cartazes com o mesmo texto impresso, caracteres uniformes, iguais, vendidos em papelarias. Dizem mais ou menos assim: “Não urine fora do vaso. Após usar, dê a descarga” [fascina-me o verbo ‘dar’ nesse contexto]. Jogue o papel higiênico no cesto ao lado”.

Mais que todas as recomendações citadas, a última mostra devoção à civilidade: “Saiba que depois de você outra pessoa usará o vaso”. Perfeito para a lei brasileira dos banheiros coletivos, transexuais – exigência mesma da economia de água, luz e papel. De minha parte, legislador fosse, acrescentaria um único parágrafo, resgatando o maior problema de banheiros domésticos e públicos, o de sempre: “Não mije no assento da privada” (aos puristas lembro que ‘mijar’ é mais clássico que ‘urinar’). O resto seria o de sempre das leis brasileiras: “Revogam-se as disposições em contrário”.

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