7:04Serpieri: de Drunna a Tex

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por Célio Heitor Guimarães

O veneziano Paolo Eleuteri Serpieri notabilizou-se no mundo dos quadrinhos pelas curvas que deu à Druuna, a gostosa nº 1 dos gibis. Morena saudável, de longos cabelos negros e corpo espetacular, Drunna nasceu em 1985 para encantar o universo masculino.

Ainda que as mulheres sempre tenham merecido especial carinho de Serpieri, inicialmente, ele pretendia dar um tom caricatural à personagem. Até o dia em que estava numa praia em Ostia, nas proximidades de Roma, então completamente deserta.

– De repente – conta o autor -, uma mulher nua saiu das águas. Seu corpo, perfeito e radiante, reluzia com as inúmeras gotas que o molhavam e refletiam a luz do sol.

Ali nascia a exuberante Drunna, figura de um futuro apocalíptico, onde os seres humanos foram sido atingidos por terríveis mutações. À vaporoso heroína cabe encontrar uma salvação para o planeta. Nem que para isso seja obrigada a fazer aquilo que mais lhe agrada: sexo.

Pois Serpieri acaba de dar uma guinada de 180 graus e arredou-se da supergata, que continua incendiando as páginas de álbuns ilustrados, para uma volta ao Velho Oeste norte-americano. E nessa empreitada não poderia ter sido mais feliz na escolha do herói retratado: Tex Willer, criação da casa editora Bonelli e o mais longevo caubói dos quadrinhos em atividade.

Não se pode dizer que o tema seja estranho a Paolo Eleuteri. No início de sua carreira de desenhista e criador de quadrinhos, ele se dizia influenciado por artistas como José Luis Salinas, o consagrado criador das tiras de Cisco Kid. Em seguida, chegou a participar da equipe que elaborou a História do Oeste Norte-Americano, um pretensioso projeto com mais de mil páginas. Por isso, o seu encontro com o mocinho de Gianluigi Bonelli e Aurélio Gallepini, é uma espécie de retorno à origem.

O resultado é um belíssimo álbum, que acaba de ser editado no Brasil por Dorival Vitor Lopes, da Mythos Editora, com tradução do curitibano Júlio Schneider: O Herói e a Lenda, argumento, desenhos e cores de Serpieri. A história se passa no início do século passado, na cidade de Nova York, onde um suposto Kit Carson, idoso e hóspede de um asilo e hospital psiquiátrico, narra a um insistente repórter italiano a história do seu inseparável companheiro de aventuras, o ranger Tex Willer ou Águia da Noite, o chefe branco dos índios navajos. A história expõe uma ambiguidade: teria o herói sido realmente um bravo soldado da lei e da ordem, caçador de ladrões de gado, comancheiros e malfeitores de toda ordem ou tudo não passou de uma lenda, tal qual tantas outras presentes no imaginário popular?

Como adverte Mauro Boselli, um dos atuais (e principais) argumentistas das aventuras de Tex e que assina o prefácio da edição, Serpieri tomou certas liberdades cronológicas em sua trama. Mas nem por isso prejudicou a história. Ao contrário, possibilita a integração do leitor ao relato e até – quem sabe? – a reversão de algumas convicções. É um trabalho instigante e merecedor de atenção.

O Tex de Paolo Eleuteri Serpieri é um Tex jovem, impetuoso, violento, com um destemor que beira a irresponsabilidade. Mas sabe o que faz e, sob a condução de Eleuteri, protagoniza um eletrizante episódio da vida na fronteira norte-americana, nos idos de 1855.

Como fecho, o autor ainda oferece, no quadrinho final, uma significativa surpresa ao leitor.

À obra, pois, texianos!

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