15:48Rugendas no Museu Paranaense

por Jair Elias dos Santos Junior

A equipe do Laboratório do Museu Paranaense está preparando sua próxima atração: “Vistas do Brasil”, de Jean-Julien Deltil e Johann Moritz Rugendas, painel de 15 metros de largura, cedido pelo Palácio Iguaçu ao Museu Paranaense.

Esse papel de parede é produzido desde 1830, sempre pelo mesmo método e utilizando as matrizes originais, pela firma francesa “Zuber”. Ele está baseado em gravuras publicadas em 1827, em Paris, com reproduções de aquarelas e de desenhos feitos pelo artista bávaro Johan Moritz Rugendas, que integrou missão científica, no período de 1821 a 1829, organizada e dirigida pelo Barão Gregori Ivanovitch Langsdorf, Cônsul-Geral da Rússia no Rio de Janeiro.

As imagens que deram origem a essa composição foram as ilustrações do livro Voyage pittoresque dans le Brésil (Viagem pitoresca através do Brasil) de Johann Moritz Rugendas. O jovem artista bávaro, que viveu por cerca de quatro anos no Brasil, fora contratado para acompanhar, como desenhista, a expedição científica comandada pelo barão de Langsdorff (1774-1852). O livro, publicado em fascículos entre 1827 e 1835, tornou-se um dos mais populares álbuns de viagem ao Brasil, rivalizando com a Voyage pittoresque et historique au Brésil (Viagem pitoresca e histórica ao Brasil) de Jean-Baptiste Debret. Para sua produção, foram empregados diversos gravadores, cuja responsabilidade era compor as litografias a partir dos desenhos de Rugendas realizados no Brasil.

A sucessão de cenas compostas a partir de diferentes paisagens, que são povoadas de personagens. Tendo em vista a continuidade proposta entre a última e a primeira cenas do papel de parede, o que se apresenta ao observador é uma visão em 360 graus do Brasil, um panorama de paisagens típicas – o perfil de cidade ao longe, a floresta virgem, as plantações, a beira-mar – e personagens característicos – o europeu civilizado, o índio selvagem, o negro escravizado. A visão panorâmica aqui proposta implica na construção de uma narrativa sobre o País, que leva em conta os aspectos considerados mais pitorescos de seu habitat natural e de seus costumes no século XIX.

Em 1955, ainda no governo Bento Munhoz da Rocha Neto, foi adquirido este papel de parede, que permaneceu exposto no Salão de Inverno do Palácio Iguaçu até 2010. No Palácio, durante décadas, o painel foi dividido em três partes. Na metade da década de 1980, ele foi unificado.

Supõe-se que o painel foi uma sugestão do secretário Newton Carneiro, um grande entusiasta das artes no Paraná. Newton Carneiro era filho de uma família tradicional, empresário bem sucedido, político – deputado federal em duas legislaturas, Secretário da Educação e Cultura no governo Bento Munhoz, presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e professor universitário.

Este painel decora a Sala de Jantares do Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro; da Embaixada do Brasil em Moscou; e da casa de Oswaldo Aranha, no Rio de Janeiro. Existe também um exemplar na Pinacoteca de São Paulo. Recentemente o painel decorou a sala de um dos personagens da novela “Velho Chico”, exibida pela Rede Globo.

Em 2015, fiz sugestão ao Palácio para que fosse adquirido um novo painel, para que fosse recolocado no Salão de Inverno, respeitando assim, a concepção dada por Bento Munhoz, Newton Carneiro e Júlio Senna. Não tenho esperança. A amnésia histórica, como diz um amigo, é forte no Paraná e prevalece, infelizmente, nos espaços públicos o gosto dos inquilinos de plantão.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.